Foi-se Luís Fernando Verissimo, um dos grandes nomes da literatura de língua portuguesa. O escritor gaúcho morreu no último sábado, em Porto Alegre, aos 88 anos. O sujeito foi um mestre, daqueles que inspiram e incentivam. Filho de um peso-pesado da literatura brasileira, o romancista Erico Verissimo, Luís Fernando saiu da sombra do pai e construiu carreira sólida e plural. O pai foi criador de painéis gigantescos da história brasileira, como a saga de “O Tempo e o Vento”, em que narra a história do Rio Grande do Sul e da formação do Brasil, com personagens memoráveis (Pedro Missioneiro, Ana Terra, Rodrigo Cambará...). Luís Fernando também foi romancista (“O jardim do diabo”, “Gula – o clube dos anjos”...), mas foi com textos mais curtos (crônicas e contos) que ganhou o público, a crítica e renome.
Nascido em Porto Alegre, em 1936, Luís Fernando viveu parte da infância e juventude nos Estados Unidos, para onde a família se mudara devido a compromissos profissionais de Erico. Nos Estados Unidos Luís Fernando estudou música e passou a curtir jazz. Saxofonista, chegou a tocar profissionalmente em conjuntos que animavam bailes em Porto Alegre. Na década de 1950, trabalhou como ilustrador na Editora Globo, na capital gaúcha (fundada pela família Bertazzo, a editora foi uma das maiores da cena literária brasileira, tendo Érico como um de seus diretores e editor). Entre 1962 e 1966, Luís Fernando viveu no Rio de Janeiro, e trabalhou como redator publicitário. Foi no Rio que conheceu e onde se casou com a carioca Lúcia Massa, sua companheira por 61 anos. De volta ao Rio Grande do Sul, foi revisor no jornal “Zero Hora”. Cobriu férias de colega de redação, assinando coluna de crônicas. Seus textos foram notados e ele ganhou espaço próprio. Em 1973, saiu “O popular”, sua primeira antologia de crônicas, e sucesso editorial. Em 1979, “Ed Morte e outras histórias” rendeu-lhe ainda maior notoriedade. Em 1981, Luís Fernando estourou a boca do balão com “O analista de Bagé”, best-seller daquele ano. O personagem, um dos mais conhecidos da literatura brasileira dos últimos 40 anos, fez sucesso estrondoso. O autor juntou um gaúcho grosseirão e direto nas observações ao universo sofisticado da psicanálise freudiana. Sua máxima “vou te dar um joelhaço” virou bordão nacional.
Logo depois emplacou a velhinha de Taubaté, a última crédula do regime militar (no começo da década de 1980, a ditadura respirava por aparelhos), e mais adiante, a Família Brasil, em que o pai observava a cena familiar e nacional junto com a filha descolada e hiponga e o genro parasita.
Verissimo, consagrado nacionalmente, escreveu para jornais e revistas. Acompanhou a redemocratização e os primeiros governos da Nova República. Suas crônicas e tirinhas (o sujeito era cartunista dos bons, criador de “As cobras”) rodaram em publicações de peso. Escreveu também para a televisão, e a série “Comédias da vida privada” fez sucesso em livro e na TV. Um mestre do texto conciso, dos diálogos lapidares, do estilo acessível e refinado, da análise bem humorada e precisa. Vai fazer muita falta.
Fernando Bandini é professor de Literatura (fpbandini@terra.com.br)
Comentários
1 Comentários
-
VIVALDO JOSE BRETERNITZ 03/09/2025Excelente texto