OPINIÃO

Os vaga-lumes de Marcos Rey


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O escritor Marcos Rey, falecido em 1999, completaria um século neste 2025. Ele foi alguém famoso, pois autor dos livros da Série Vaga-Lume, um sucesso do mercado editorial brasileiro oferecido à juventude pela Editora Ática. Foi com os livros de Marcos Rey que uma geração se encantou com a literatura. Talvez entre nossos adultos, até já na categoria de avós, existam os que se deliciaram com a leitura de “O Mistério do Cinco Estrelas”, “O rapto do garoto de ouro”, “Um cadáver ouve rádio”, “Sozinha no Mundo”, Dinheiro do Céu” e muitos outros.

Marcos Rey era ligado a Mariazinha Congílio, nossa cronista-maior, que fazia divulgação de Jundiaí em todos os espaços, dentro e fora do Brasil. Ele e sua esposa, Palma, chegaram a vir algumas vezes a Jundiaí, na casa de Mariazinha à rua Senador Fonseca, lugar de encontro de intelectuais, artistas, celebridades e todos os que só visitavam nossa cidade porque atendiam a generosos convites de Mariazinha.

Para se lembrar de Marcos Rey, nesta era em que a falta de memória é uma característica muito disseminada no Brasil, a USP promoveu o evento “O Legado da Série Vaga-Lume: Centenário de Marcos Rey”, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras daquela Universidade.

Conseguiu-se congregar vários autores que conviveram com Marcos Rey e podem dar testemunho de como foi possível lançar uma série que chegou a vender mais de oito milhões de exemplares, publicou mais de cem títulos e, iniciada em 1973, encerrou suas atividades em 2008.

Houve também oportunidade para homenagear duas autoras que colaboraram com a série, já falecidas. Maria José Dupré, a célebre autora de “Éramos Seis”, livro que virou novela e foi gravado ao menos duas vezes na televisão brasileira, e Lúcia Machado de Almeida.

O sucesso da coleção é justificado porque havia um público leitor em potencial, não atendido pelas publicações da época. Eram os estudantes entre os onze e catorze anos, que cursavam o que hoje é chamado ensino fundamental e inclui a faixa dos que estão entre o quinto e o nono ano.

Marcos Rey conseguiu atingir esse público, porque seus personagens tinham a idade dos potenciais leitores e se encontravam nas aventuras narradas e se animavam a ler também os livros publicados em seguida. Outra estratégia da Ática foi consultar os possíveis leitores. Em lugar de deixar a escolha dos títulos a especialistas, eram os próprios estudantes que respondiam a enquetes sobre o que gostariam de ler. Com base em suas opiniões, os exemplares eram elaborados e publicados. Estabeleceu-se a praxe de formar grupos de alunos, em parceria com professores. Eles tinham voz ativa na seleção dos títulos a serem publicados. E deu certo.

Marcos Rey tinha uma facilidade enorme em se comunicar com a juventude. Seus livros também eram muito lidos por adultos. Naqueles tempos em que todos liam, fossem crianças ou adultos.

Hoje, com a transformação algorítmica da sociedade mundial, o prazer da leitura tem sido substituído pela dependência às telinhas. O Brasil possui mais celulares e smartphones do que habitantes. A digitalização substituiu aqueles momentos mágicos em que o olhar atento percorria linhas impressas e se impregnava de pensamentos concebidos na consciência do escritor e recuperados e reinventados na cabeça do leitor.

Terrível saber que o Brasil perdeu 67 milhões de leitores nos últimos anos. E que os pais continuem a entregar celulares a suas crianças, que aos poucos perdem o interesse pelo livro, esse amigo inigualável e insubstituível de quantos sabem ler. Será que Marcos Rey também se entregaria à produção de memes, tik-toks, audiovisuais rápidos, mensagens fugazes que desaparecem assim que lidas? Não me arrisco a opinar.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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