OPINIÃO

Os desafios humanos em um mundo cada vez mais digitalizado


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A revolução tecnológica chegou como um verdadeiro tsunami. O espaço do viver se transformou em digital – a um toque dos dedos –, no qual a sociedade e a comunicação se encontram para produzir valor. Sons, imagens, textos, interações e até emoções são informações processadas por máquinas, onde um novo mundo é construído sobre dados binários (0 e 1). 

Esse novo mundo virtual, não existe fisicamente, mas conecta pessoas, empresas e culturas em tempo real. Possibilita a participação ativa, troca de ideias e criação coletiva de qualquer conteúdo ou ação que pode alcançar milhões de pessoas instantaneamente. Também une diferentes plataformas, dispositivos e linguagens em uma mesma rede, e, alterou a forma como trabalhamos, compramos, aprendemos, nos relacionamos e até pensamos.

Embora estejamos “conectados”, a humanidade vem perdendo a essência do “olho no olho” o que nos leva a refletir sobre o significado do “ser humano”. O avanço das tecnologias digitais e da inteligência artificial promete eficiência e automação, mas também nos desafia a não perder de vista a essência analógica da mente humana que é criativa, adaptável e profundamente relacional.

O funcionamento analógico do cérebro humano é um alerta do mundialmente reconhecido neurocientista Miguel Nicolelis. “O cérebro humano não opera por algoritmos digitais, mas como uma orquestra sinfônica em permanente metamorfose. Essa singularidade explica por que nenhum sistema de inteligência artificial pode superar a complexidade orgânica e emergente da inteligência humana.”

Apesar do fascínio que a chamada “inteligência artificial” desperta, Nicolelis adverte que “não é nem inteligente nem artificial. Ela é um grande repositório de dados, programado para oferecer correlações estatísticas. Ao contrário do cérebro humano, não cria sentido, não possui consciência nem interpreta o mundo em sua plenitude.” Segundo ele, por trás do marketing em torno da IA, há um risco claro quando delegamos às máquinas funções que são exclusivamente humanas, tais como, bom senso, empatia e capacidade de lidar com contextos complexos e imprevisíveis.

Se por um lado a tecnologia amplia acessos, por outro, a imersão excessiva no digital molda nossa mente à lógica binária, reduzindo a capacidade de elaborar, imaginar e decidir com base em nuances. Nicolelis diz que, ao transferirmos nossas funções cognitivas para aplicativos, algoritmos ou chips invasivos, podemos perder atributos conquistados ao longo da evolução. Ele exemplifica por meio de uma pesquisa realizada com motoristas de táxi de Londres. Ela demonstrou que aqueles que decoravam mapas da cidade apresentavam maior desenvolvimento no hipocampo, a área ligada à memória espacial. A dependência total do uso do GPS, atualmente, tende a atrofiar essa função.
“O futuro da humanidade é analógico”, afirma Nicolelis. Em um mundo cada vez mais digitalizado, somos insubstituíveis quando atuamos como seres relacionais, criativos e sensíveis. Mais do que dominar máquinas, precisamos dominar a nós mesmos, cultivando a essência da inteligência humana, aquela que não pode ser replicada por nenhum código binário.

Para isso é necessário reforçar habilidades analógicas como criatividade, empatia, pensamento crítico. Educar para o uso consciente da tecnologia. E por fim, valorizar a inteligência coletiva. As conexões entre pessoas são insubstituíveis para a inovação. Você concorda?
 
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br) 

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