OPINIÃO

Nossa morada comum


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Um dos aspectos mais instigantes gerados pela Constituição Cidadã de 5.10.1988 foi o estímulo a que a sociedade civil viesse a participar da gestão da coisa pública. As deficiências da Democracia Representativa numa República de tantos partidos políticos e insuficiente educação, fizeram com que o constituinte acenasse com a Democracia Participativa. Nada como fazer com que o povo tenha atuação direta na governança global. O texto fundante abriu espaço para a multiplicação de organismos do Terceiro Setor.

O trabalho por eles desenvolvido já se faz sentir em todas as áreas. Educação, cultura, ecologia, esportes, saúde, com nível diverso de atuação e influência na implementação de políticas públicas.
Dentre os vários exemplos de êxito, pode-se apontar a “Morada Comum”, cujo intuito é fazer com que a agenda climática importe a todos os brasileiros e não apenas para os movimentos que ficaram associados à esquerda política. A visão da “Morada Comum” é de que o Brasil é uma nação em que cidadãos de centro-direita e as instituições que os abriguem conciliem seus interesses pessoais e seu modo de vida com a preservação do nosso patrimônio natural. Com isso, acelerando o crescimento econômico e a consolidação de comunidades resilientes e autônomos. O que significa a edificação de futuro próspero para todos os brasileiros.

Não é incompatível a defesa do meio ambiente com a prosperidade econômica. O “modus operandi” da “Morada Comum” é imergir nos valores dos grupos ouvidos, estabelecer parceria com as instituições em que esses grupos confiam. Em seguida, desenvolver campanhas em parceria com as instituições e construir apoio político junto a grupos que ainda não tenham acesso à vida partidária.

Elaborou-se uma pesquisa que recebeu o título “Na Raiz do Brasil”, com mais de quatro mil entrevistas e abordagem de temas quais visão de mundo, família, religião, gênero e confiança nas instituições. Nada como recorrer à ciência para conhecer valores e crenças dos brasileiros a respeito desse tema de relevância ímpar: meio ambiente e clima. Com a metodologia desenvolvida em conjunto com a Quaest, obteve-se insight para promover campanhas autênticas e empáticas que fizessem o brasileiro se interessar, efetivamente, pela questão das emergências climáticas. Isso é primordial, pois o fenômeno climático provoca interesse em menos de 8% da população brasileira.

Nada obstante, 100% dos brasileiros são diuturnamente afetados pelos eventos extremos, resultantes dos maus-tratos secularmente infligidos à natureza.

Ao contrário do que o senso comum aponta, o Brasil não está polarizado entre duas posturas antípodas. Constatou-se na pesquisa que 26% dos consultados integram o grupo das mães de família religiosas; 23% deles defendem um Estado forte. O grupo dos desiludidos com a política empata com o dos empreendedores pragmáticos, cada qual com 12%. Os defensores da Pátria e da Família somam 10%, seguidos pelos otimistas solidários com 9% e, finalmente, os progressistas engajados com 8%.

O percentual obtido permite o foco nos segmentos politicamente relevantes ainda não alcançados pelo movimento climático. A missão da “Morada Comum” é conectar a agenda climática aos valores, crenças e prioridades dos grupos, fortalecer um ecossistema de instituições, de maneira a fortalecer novos atores e permitir que eles participem da política, engajando-se nas medidas já existentes ou incentivando a adoção de outras, ainda não exploradas.

Esse é um exemplo de como a cidadania pode atuar no maior desafio até hoje enfrentado pela humanidade. Quem quiser saber mais sobre a “Morada Comum”, pode se comunicar com a Diretora Executiva Nathalia Rocha pelo e-mail nathalia@ochome.com e obter informações mais detalhadas.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação de e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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