OPINIÃO

Caminho de volta


| Tempo de leitura: 2 min

Podem me taxar de retrógado e saudosista. Compras pela internet, delivery, facebook, o tal do mundo moderno só nos faz vedar os olhos para as coisas mais essenciais da vida. Pensava na bagunça colorida do nosso antigo viver. Neste alegre e solidário final de inverno, numa das noites deste agradável friozinho ameno, caminhei pelo centro histórico de Jundiaí. Não consegui controlar e que se pode chamar de saudade. Viajei no tempo. Fortemente preso ao passado, esse passado foi revisitado, trazido à cena sucessivos momentos inesquecíveis, relembrando tempos de agradável juventude. Trafeguei por minhas doces lembranças. Uma ponta de saudade, dos velhos jovens tempos, tocou meu inquieto coração. Por onde andarão tantos e tantos jundiaienses, que ali puderam viver os seus anos de brilho, de luzes e de uma animada agitação. Por onde caminha aquela camaradagem amiga da Turma da Pauliceia ? Quem não há de se recordar do “point” na Pauliceia, onde vicejava a juventude dos cabelos longos e de sonhos coloridos? A meiga paquera, o olhar discreto e tímido nas moças bonitas, tão cheios de graça e amor. 

Oh! Os dois grandes cinemas, o Marabá na rua do Rosário e o Ipiranga na rua Barão, ponto de encontro obrigatório dos embalos de sábados. As agitadas brincadeiras dançantes no Clube Jundiaiense e no Grêmio da Rangel. A saída da missa matinal aos domingos, tanta gente bonita e elegante. Os aconchegantes bares e restaurantes. A “caipirinha” do Redondo, os salgadinhos do restaurante DADA, a batida de coco e o “croquetinho” do Haiti, o filé com fritas da Cantina Jundiaiense. Ah! os encontros da noite. O Saveiro com suas cortinas vermelhas. O Urso Branco do tradicional creme de aspargos. O bar do Lula com seu incomparável sanduíche de pernil. O Mirim Dog, imbatível, com seus deliciosos lanches. A inesquecível Choperia Cristal. 

No centro histórico, pulsava o coração palpitante da cidade. Aos poucos foi perdendo seu glamour. Cines e bares, que esquentavam as noites, fecharam. O público se afastou e a noite perdeu o brilho de seu encanto. Sinto, todavia, nesta volta, algo especial, a se despontar. Nosso centro histórico tem de recuperar suas energias e ressurgir forte na persistência de vencer. Sua energia espelha-se na característica urbanística mantida ao longo de tanto tempo. Ergue-se no seu marco principal a imponente Catedral e o artístico velho casario. Policiais militares estão atentos na movimentação das ruas. O comércio começa a respirar novos ares. Suas lojas já apostam num comércio alternativo, com preços competitivos frente aos grandes shoppings. Mas precisamos mais de paisagismo do que cimento. Mais vida, cores e luzes ao coração da cidade. Se ainda não aprendemos que caminho a seguir, para monumentalizar o centro da cidade, ao menos, sabe-se os atalhos a evitar. Na geografia temos caminho, mas na história só se salva a beleza. Nosso centro histórico deve ser motivo de orgulho e honra, não só daqueles que fizeram a sua grandeza, mas todos nós, que temos orgulho de viver aqui.

Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)

Comentários

Comentários