OPINIÃO

“Tarsila Popular” e Oswald de Andrade


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A maior exposição já feita da artista Tarsila do Amaral – “Tarsila Popular” - de 2019 - foi a mais visitada da história do Masp (Museu de Arte de São Paulo) – com 402.850 visitantes. Também foi a maior demonstração de que cultura tem interesse, sim, para a população brasileira. Ao custo de R$ 4,5 milhões, viabilizados pela Lei Rouanet, indica a necessidade de manutenção do fomento à cultura.

Quantos projetos, por exemplo, foram financiados por essa legislação em Jundiaí? Essa resposta não vem de imediato porque os poucos que existem são insuficientes em proporção às demandas do que está necessariamente para ser feito – e sem a constância de solicitações e poucos eventos de importância para um grande público.

É constrangedora a falta de reconhecimento da paisagem usada por Tarsila, uma das mais valorizadas artistas do mundo atualmente, de uma de suas fazendas na então Jundiaí e atual Itupeva (mais precisamente em Mont Serrat): a Fazenda Santa Tereza do Alto. Essa foi comprada no início do sec. XX por Oswald de Andrade e Tarsila que eram tão importantes e revolucionários que o casal foi conhecido como Tarcivald, e ali o movimento moderno brasileiro foi elaborado pelos dois.

Ao levar em 1983 o fundador do Masp, Pietro Maria Bardi, em uma visita ao local – a fazenda Capim Fino, que foi propriedade da família de Tarsila – o passeio foi sensacional porque naquela sede completamente preservada havia uma grande coleção de obras de arte contemporâneas.

Por todo o trajeto de terra até a fazenda, a paisagem era então a mesma que a artista registrou em suas telas. Foi surpreendente o reconhecimento, mas permanece o descaso na preservação dessas paisagens rurais e o desinteresse público e intelectual é terrível, de forma inversa ao sucesso que faz, cada vez mais, sua arte.

Trata-se, para situar, do trajeto entre Mont Serrat e a Fazenda Capim Fino. Ainda é possível repeti-lo hoje, como comprovado em sua obra “Paisagem”, de 1948, no acervo do Museu de Arte Moderna (MAM). A diferença é que os usos atuais são predadores: lugares tomados por loteamentos, sabe-se lá como aprovados e a ameaça a paisagem que não é reconhecida por ninguém.

Posso afirmar isso porque há 60 anos já conheci essa região, onde passava as férias usando sempre o trem da Sorocabana que a própria Tarsila usava e essa paisagem fascina e provoca desde então. Os trilhos seguiam as terras cafeeiras e as paradas eram sempre próximas das sedes das fazendas – assim, a fazenda São João onde eu ficava era duas estações antes da fazenda Mont Serrat e da fazenda Santa Teresa do Alto.

Essa geografia foi a paisagem determinante da sua revolução modernista e inspiradora para a produção de suas obras que, do Brasil, hoje são as mais conhecidas na América Latina. E a mais popular e cara artista que o país já teve. O Abaporu, por exemplo, é um ícone da arte comparado em interesse público a Mona Lisa, de Da Vinci.  

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista 

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