Comecei a usar gravata muito cedo. Gostava de ver meu pai dar o nó em suas gravatas. Foi com ele que aprendi e é como faço ainda hoje.
No começo, usava as gravatas dele. Com o passar do tempo, fui comprando minhas gravatas. Quando cursava direito na PUC-Campinas, uma amiga de classe, Celene Margarida Cruz, foi passar férias na Europa. Eram tempos em que não era tão fácil viajar. Nós, de Jundiaí, acompanhávamos quem ia embarcar em Viracopos, como se a viagem fosse um grande acontecimento. Pois pedi a Celene comprar gravatas para mim em Paris. Dr. Molina, João Fernandes Gimenes Molina, trouxe-me linda gravata de uma de suas viagens. Nunca me desfiz dela.
Ela trouxe três gravatas. Ainda as tenho! Já na condição de promotor público, fiz várias viagens a Buenos Aires. E voltava com dezenas de gravatas. Com o passar dos anos, além das que eu comprava, fui ganhando muitas. Meu amigo Gilberto Fraga de Novaes e eu trocávamos gravatas nos aniversários. Não era surpresa e havia cobrança recíproca. A querida Lolô Bisquolo, pouco antes de partir tão cedo, me presenteou com uma linda gravata marrom. Também as recebi de Fábio Prieto, hoje Secretário da Justiça, quando ele também era jovem promotor, de Enrique Ricardo Lewandowski, quando meu colega no TJ e do ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, com quem fiz inúmeras viagens pelo exterior, para conhecer as Escolas da Magistratura.
O resultado é que fiquei com muitas gravatas. Na verdade, milhares!
Minha mulher dizia que no meu caixão, em lugar de flores, ela colocaria gravatas. Embora fornecendo gravatas para filhos e genro, elas ocupavam enorme espaço.
Comecei a procurar quem fizesse patchwork. Aquela técnica tão comum nos Estados Unidos, de confeccionar peças com retalhos. Pesquisei. Indaguei de minha querida amiga Cristina Castilho, se não conhecia quem trabalhasse com isso. Debalde.
Foi quando tomei conhecimento da existência de uma associação de senhoras do extremo sul da capital, especializadas em patchwork. Levei então a D. Vanda uma caixa repleta de gravatas. E, um mês depois, ela me entregou uma colcha de casal, multicolorida, na qual identifico as queridas “amigas” com as quais enlacei meu colarinho e consigo até lembrar do casamento, da festa, da solenidade, da cerimônia em que a usei.
No ano passado fiz cinco viagens internacionais. Em Paris, fui às lojas que costumava frequentar: Ermenegildo Zegna, Salvatore Ferragamo, Hermès. Não havia mais gravatas! Será que elas deixaram de ser produzidas?
Quanto a mim, ainda as tenho e continuo a usar. Nos dias de inverno de junho “ressuscitei” algumas de lã. Gravatas de inverno, compradas no clima gélido europeu das viagens entre dezembro e janeiro. Era a temporada de visitas aos tribunais e escolas da magistratura, valendo-nos do recesso no Judiciário brasileiro.
Pode ser que ainda precise de D. Vanda, pois a coleção continua a crescer. Penso que essa arte, a do patchwork, deveria ser disseminada entre pessoas que querem exercer uma atividade laboral. Dá para faturar bem. Não é barato recortar e costurar, um a um, os quadriláteros que vão formar colchas, ou toalhas, ou quaisquer outros produtos feitos com o aproveitamento dos retalhos. E o resultado fica muito bonito.
Acho que tenho material para mais uma colcha. Sem prejuízo do enfeite da urna funerária.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)
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Arone De Nardi Maciejezack 07/08/2025Eis um texto que eu gostaria de ter escrito!