OPINIÃO

Jundiaí pode ser exemplo


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O Brasil recebe neste ano a COP-30, a reunião de todos os países para debater a crise climática. A COP será em Belém, no Pará, mas é a oportunidade para todos os brasileiros debaterem o que a sociedade civil pode fazer para criar cidades resilientes. Ou seja, cidades que suportem a intensidade dos fenômenos extremos que ocorrerão com frequência cada vez maior. O planeta está enfermo. Nós somos os responsáveis por sua agonia. Houve contínuos maus-tratos, crueldade ancorada na ganância e também na ignorância.

As emergências climáticas são produzidas pelo aquecimento global, cuja causa é a excessiva emissão de gases venenosos, geradores do efeito estufa e também o desmatamento. A cobertura vegetal é o antídoto à falência climática. Enquanto não nos convencermos de que a árvore é a maior amiga da vida, não haverá reação compatível com a gravidade da situação.

Não se pode esperar que os governos centrais – no nosso caso, o governo federal – assuma e se encarregue das políticas públicas ecológicas. Embora ele tenha responsabilidade acrescida, o nível da política partidária praticada em nosso país nesta quadra histórica não deixa muitos sinais de esperança. Daí a necessidade de protagonismo das entidades subnacionais. Os Estados-Membros e os municípios têm de dar a sua parte na construção de uma cultura de resiliência.

Jundiaí tem condições de participar dessa reflexão. A começar de todas as escolas aqui sediadas: municipais, estaduais e particulares. Elas podem e devem fazer com que o alunado participe da discussão dos grandes temas que interessam ao planeta.

Promover conferências, palestras, seminários, congressos, encontros. Estimular a juventude a fazer concursos: de fotos, de pequenos filmes, desses que circulam pelas redes sociais, de desenhos, de trovas, de crônicas, de poesias, de ensaios, de propostas concretas para solucionar pequenos problemas locais.

Hoje o mundo é das startups, as mini-empresas que podem até se tornar unicórnios, quando conseguem faturar mais de um milhão. E elas podem abrigar a criatividade da geração digital, nativa no uso dessas bugigangas eletrônicas das quais somos reféns.

O plantio de árvores é algo que precisa comover todas as pessoas lúcidas e sensíveis. Toda cidade precisa de mais árvores, mesmo aquelas que foram aquinhoadas e privilegiadas com tesouros como a Serra do Japi, sempre correndo risco de variada natureza. Especulação imobiliária, a venda de apartamentos de quem se utiliza da Serra como propaganda, mas que não respeita o seu espaço de amortecimento. Isso põe em risco a integridade do último grande exemplar arbóreo que se ergue sobre um solo de quartzo. Muita gente desconhece que se a Serra do Japi perder sua vegetação, ela se transformará num deserto.

Recuperar nascentes perdidas, recompor a mata ciliar, redescobrir córregos que foram sepultados para servir ao trânsito, incentivar as pessoas a voltarem a ter jardins, hortas e pomares, incentivar a agricultura orgânica. Há muita coisa a ser feita e todos podem sugerir outras iniciativas e atividades.

O que realmente importa é que Jundiaí não fique fora do espírito de uma COP. Aquela COP da qual o mundo espera tanto: a intensificação da desfossilização, o financiamento às nações emergentes, o cumprimento do Acordo de Paris, a cessação imediata do desmatamento, com o qual não se deve transigir.

Enfim, como jundiaiense, espero que participemos desse grande movimento nacional. Não é sempre que a ONU elege nosso país para um encontro dessa dimensão. Prestigiemos o momento histórico. Sejamos parte da solução e não do problema.
 
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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