É sempre importante zelar pelo patrimônio histórico. As tradições fazem parte do valioso acervo da memória coletiva. Quem não respeita o passado não tem condições de respeitar também o presente.
No dia 1º de agosto, dar-se-á a abertura oficial do mês do Patrimônio Histórico e Cultural de Jundiaí, em sua nona edição. E, pela segunda vez, haverá o Encontro das Cidades e pela décima terceira vez, o Simpósio do Patrimônio Material e Imaterial de Jundiaí, em parceria com a FATEC.
Interessante premiar os que participaram do concurso “Fragmentos do Tempo – Fotografia e Patrimônio”. Jundiaí está muito diferente do que foi, nem sempre mais bonita. A região central, por exemplo, possuía residências senhoriais, muito bem construídas, para moradia das famílias mais tradicionais. Não eram somente as mais ricas. As casas possuíam jardins e, não raro, hortas e pomares nos quintais.
Esse patrimônio fotográfico pode mostrar que as transformações nem sempre contribuem para o apuro estético. As ruas Barão de Jundiaí e Rosário são hoje irreconhecíveis. Não se distinguem de outras vias públicas de um processo que poderia consistir em vulgar homogeneização da paisagem arquitetônica.
Uma terra com arquitetos como o foram Ariosto Mila, Antonio Fernandes Panizza, Mário Augusto de Oliveira Bocchino, e que ainda tem Araken Martinho, o mestre de todos nós, Pedro Taddei, Eduardo Carlos Pereira, além da safra nova que eu não conheço, deveria primar por preservar a beleza que já existiu e que foi desaparecendo. Um comércio revestido de fealdade, como se tudo fora expressão do “0,99” ou dessas redes “tudo por 1 dólar”, ou “1 real”, não condiz com um município que surgiu no século XVII e que já foi muito mais aprazível em sua fisionomia arquitetônica.
Verdade que o verbete patrimônio inclui uma série de dimensões. Algumas delas já contempladas na programação que Fernando Maranha Peche, Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico, me encaminhou com atencioso convite. Mas é preciso conceder ainda maior relevância ao patrimônio geológico, ambiental e hidrológico, já contemplado com a palestra da notável Professora Dra. Luciana Cordeiro, além de outros especialistas. É que Jundiaí tem um patrimônio a correr perigo, a Serra do Japi, único maciço de quartzo coberto com frágil faixa de terra. A Serra mereceu combativa e exitosa defesa de Aziz Ab’Saber e mereceu tombamento. Mas isso é pouco, pois estamos no país em que muito se legisla, muito se normatiza e pouco se cumpre a lei.
A Serra vem sendo “vendida” como atração para a especulação imobiliária e, salvo engano, não tem sido respeitada a sua zona de amortecimento. Não tenho visto a continuidade do processo expropriatório que submeteria à titularidade da Prefeitura áreas que devem ser preservadas para garantir o microclima jundiaiense. Nem tenho sabido de reflorestamento maciço, a fazer com que as chagas abertas pela devastação venham a ser recompostas com vegetação nativa.
Esse mês do Patrimônio Vivo deve servir também para que Jundiaí reivindique do governo do Estado o mesmo tratamento dispensado a Campinas, que teve suas áreas verdes excluídas do plano de venda para particulares. Aquela área entre a Rodovia Bandeirantes e a Serra, justamente nas proximidades do aeroporto, que também não cessa de crescer, precisa ser preservada. Senão, será entregue também à especulação e, embora se procure vender “qualidade de vida”, o que se venderá será um futuro incerto, com a excessiva ocupação de glebas que mereceriam efetiva tutela.
A Serra do Japi, por enquanto, é um patrimônio vivo. Mas se não zelarmos por ela, até quando o será?
José Renato Nalini é reitor, docente de Pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)