Como podemos ver, nosso teatro é orgulho para todos, mas motivo de interpretações nem sempre originais.
O professor Pedro Fávaro, com 2 mandatos (1964-1969 e 1977-1983), atendendo pedidos intensos para que não deixasse o teatro virar um supermercado, comprou o prédio em 1980. Não interessado na restauração ou sem orçamento, conseguiu reformar o telhado. Isso foi o socorro que possibilitou as sucessivas intervenções e restaurações.
No período que colaborei com o MASP – Museu de Arte de São Paulo -, e fui orientando do professor Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, pude acompanhar os trabalhos que Lina fazia no Sesc Pompeia. Em visitas técnicas me mostrou como entendia o fazer restauração. Para mim era surpreendente.
Muito tempo depois esse contato me levou a convencê-la a fazer o Polytheama. Aceitou e teve uma ótima recepção por todos da prefeitura, diga-se que o então prefeito - André Benassi - atendeu suas expectativas, assim como o corpo técnico da prefeitura.
Anteprojetos e ideias ferviam quando eu levava em nossas reuniões o que tinha sido o Polytheama e como era intensa a programação. Em um certo período, principalmente na eleição da Rainha da Festa da Uva, torcidas organizadas urravam pelas belas mulheres que ali desfilavam e o teatro vinha abaixo quando passavam as candidatas, principalmente de maiô. O estrondo das arquibancadas era fantástico. Lina ria de maneira safada e adorava esse burburinho e manifestação.
Mas a partir daí Lina passa a afirmar que era um teatro de muitas variedades (poly – theama) e que era, sobretudo, popular. Lembrava o Maison du Peuple, na Bélgica no final do século XIX (1886), um teatro polivalente que apresentava espetáculos de cabaré, teatro, circo, comícios, políticos, salão de baile e que ela conhecia bem. Conversei muito e continuei a juntar elementos para uma possível restauração. Ela aceitava com muita alegria essas referências que iriam nortear a proposta.
Vale lembrar que não era apenas um projeto, era um contexto moderno que não deixava de lado sequer o programa que deveria começar e seguir, com curadoria de teatro e a modernidade que ela conhecia tão bem. Seria perfeito esse lugar único! Não teria outro tão perto de São Paulo. Ela tinha certeza que o funcionamento traria o público de São Paulo para curtir o teatro. Ela me descreveu com prazer e muitos detalhes uma peça que gostaria de ver acontecer, inclusive com o diretor que pensou. Ela tinha esse roteiro na cabeça e me contou.
Quando soube da impossibilidade de fazer seu tubo náutico, uma imersão fantástica, já que preparava o público para a experiência que teriam dentro do teatro e os conduziria às arquibancadas onde seria o lugar mais barulhento e popular. O Museu da Energia estava ativo, tombado e não poderia ser demolido. Frustrou-se e abandonou esse projeto de modernidade e novos arquitetos e colaboradores assumiram, mas não eram os que fizeram o Teatro Oficina ou outros teatros com quem ela fez. Alteraram o projeto original.
Agora o que tem dela, do primeiro projeto, é a galeria, que também não foi ocupada da maneira que ela queria que acontecesse: um espaço para nós fazermos as exposições que ajudávamos no MASP e no Sesc. Permaneceram as cortinas vermelhas de veludo, as tintas prateadas que desde início estavam presentes e as frisas, mas as cadeiras que ela iria desenhar não aconteceram. Infelizmente em seu lugar foram postas cadeiras estofadas, como as de escritório, compradas em lojas para escritórios corporativos, um contrassenso.
O que se fala em nome da Dona Lina também não deveria continuar porque a choperia que, indicam alguns, era para ser onde é o Museu da CPFL, não é onde ela queria que acontecesse. Ela queria que a choperia fosse numa gruta, no talude atrás do teatro. Infelizmente foi substituída nos projetos por concreto para atender pedidos não sei de quem, mas que não foi realizado e ainda bem que ficou somente em projeto. Mas tudo isso pra dizer que uma choperia que queriam recentemente alguns, não foi onde estão querendo construir agora, no museu da CPFL, não foi onde ela queria que acontecesse.
O Polytheama não é do povo. É um Teatro Municipal formal, não é o “Maison du Peuple” que era para ser. Não o querem assim.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)