Com o aumento de moradores de rua em Jundiaí ou os chamados em situação de rua, comerciantes, população, moradores do centro e vereadores se manifestam. As assistentes sociais fazem seu trabalho e relocam alguns e realizam outros trabalhos pra acolhê-los.
Ocorre que isso tem uma história muito longa. Podemos lembrar que no Rio de Janeiro de Francisco Pereira Passos (1848 – 1919), que durante seu governo como presidente da República, de 1902 a 1906, implantou um projeto de modernização da capital onde grandes demolições de favelas e cortiços, puseram na rua imensos contingentes de ex-escravos e pobres sem moradia.
Foi comum esse assunto nos jornais da época, como uma charge de 1906 publicada na revista “O Malho”, que mostrava um casal dormindo em uma cama montada na calçada e outros móveis e objetos em cena, e um guarda falando: “Circulem! Isto aqui não é lugar de residência."
Por aqui, a história de pessoas sem moradia, no começo do século passado, não deixou de receber esses migrantes que vinham expulsos do Rio de Janeiro. Imigrantes italianos, que preferiam vir para a cidade, se abrigavam inicialmente em casas do centro, que eram construídas às pressas e de forma precária para aluguel na Rua Senador Fonseca, Rua Zacaria de Goes e nas ruas entre a Fepasa e o Centro. Viravam cortiços, a exemplo do bairro de Bela Vista, em São Paulo. Nem porões foram poupados, abrigavam pessoas que pagavam para poderem trabalhar.
Italianos já estabelecidos não deixavam de usufruir desse expediente e investiram em casas geminadas de aluguel. Pela quantidade dessas casas espalhadas pela cidade, até hoje é possível encontrar esses conjuntos nos mais diversos bairros Vila Arens, Rua do Retiro, Ponte São João e rua Coronel Leme da Fonseca, por exemplo, fileiras de casas geminadas foram feitas para alugar e resistiram até os anos 1980, quando foram transformadas em fileiras de comércio atuais.
A chegada de imigrantes que vinham para as áreas urbanas, procurou se estabelecer na Região do ABC, Santo André, São Bernardo e São Caetano, que já estavam com uma industrialização acentuada e recebiam para trabalharem nestas fábricas. Em São Paulo os bairros do Brás, Mooca, Pari e Bixiga se caracterizaram por esses italianos que procuravam trabalho em São Paulo.
Em Jundiaí, imigrantes e migrantes em condições precárias inicialmente poderiam se hospedar em pensões e hospedarias que ficavam próximas à estação ferroviária. Um deles, com pequenas celas, era pior que um presídio e foi demolido no começo deste século. Um dos que ainda estão em pé, é uma construção com uma sequência de portas, que pode ser vista do mercado ferroviário.
Essa semana, moradores de rua, contingentes que aumentam e que por aqui parece que circulam (não se estabelecem), ocuparam as calçadas em frente à loja Passarela no prédio emblemático do Edifício Carderelli. Ironicamente estavam na passarela, como se mostrassem, no melhor ponto comercial de Jundiaí, a condição social que vivem.
A câmara municipal está com ação permanente para reverter esse centro que está tão mal-usado e tão descuidado pelos proprietários eles parecem não se interessar mais em conservar seus imóveis vazios. O que se vê são placas de aluguel em prédios abandonados que antes eram excelentes edifícios comerciais com boas arquiteturas.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)