Uma boa notícia foi a desistência do Estado vender a Fazenda Santa Elisa, vinculada ao IAC, Instituto Agronômico de Campinas. A Secretaria da Agricultura e Abastecimento comunicou que a área já não integra a relação de imóveis em estudo de viabilidade de alienação. Isso porque a notícia gerou uma série de protestos de entidades e políticos.
Tomara que isso aconteça também aqui, pois existe a intenção de alienar o espaço estadual que sediou vários órgãos estaduais vinculados à agricultura. É uma gleba ainda preservada, tem árvores e lagos. Deveria servir para sediar setores de extremo interesse para a cidade, em lugar de se destinar ao adensamento de edificações que já é um fenômeno preocupante. Basta verificar o trânsito na rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, a antiga Estrada que ligava Jundiaí e Itu. Com a proliferação de prédios e loteamentos entre nossa cidade e Itupeva, em direção a Cabreúva e Salto, há dias em que é difícil circular por ali.
Se faltarem ideias para a melhor utilização do espaço, aqui vão algumas. A Serra do Japi é o último torrão de Mata Atlântica em uma região inteiramente conurbada. Ela precisa de proteção. Todo o entorno já foi tomado, inclusive com a sua “venda” como atrativo para que os compradores tenham a sensação de aquisição ecologicamente saudável.
É preciso aumentar a área expropriada, para que esse patrimônio permaneça e garanta o microclima ameno de nossa cidade. Para isso, é necessário que haja viveiros responsáveis pela formação de mudas de replante. Há muitas chagas abertas na Serra, que pedem restauração. O lugar poderia ser reservado a sediar viveiros.
Simultaneamente, serviria para formar técnicos agrícolas, silvicultores, botânicos, ambientalistas, guias ecológicos, todas as carreiras que não desaparecerão com a Inteligência Artificial e que estão clamando por atenção das autoridades responsáveis pela educação das novas gerações.
Jundiaí também já não possui um Horto Florestal, que já existiu por iniciativa da saudosa extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, após cuja desativação, nunca mais se pode falar em malha ferroviária em nosso Estado. Ali seria interessante a criação de um Jardim Botânico mais próximo à Serra, de um borboletário, de uma estação experimental para frutos e flores tropicais. Um museu de botânica, uma área destinada a salvar as espécies da flora nativa em extinção ou na divulgação daquelas mais indicadas para arborização ou cultivo em nossa região.
Ideias não faltam. Todas elas mais úteis à nossa região do que vender um pedaço de terra do povo para empreendimentos privados, nem sempre ciosos de que a responsabilidade pelas emergências climáticas é de todos, não apenas do governo.
Enfatizo que não sou adepto do Estado máximo. Defendo o Estado mínimo, porque tudo aquilo que a iniciativa privada puder fazer com eficiência maior, será melhor para o povo. O cipoal normativo burocrático desta nação sempre dificulta o funcionamento de repartições públicas. Já o lucro, objetivo do empreendedor, não convive com entraves ou burocracia. Sabe se livrar de quem incomoda, o que não é fácil diante da tutela estatal sobre os quadros e dos demais estorvos que tornam as prestações públicas emperradas, dispendiosas e disfuncionais.
Que a população e a política local se manifestem, para que Jundiaí também tenha a sua área estadual à venda retirada daquelas que estão sendo oferecidas à melhor oferta do capital privado. As futuras gerações só terão a agradecer. Sigamos o exemplo de nossa filha que nos suplantou, a Campinas, que já se chamou “Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí”.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)