O estado de São Paulo possui potencial para se tornar referência nacional na produção de biometano, um combustível renovável com alto poder de transformação econômica e ambiental. Esta é a conclusão de um estudo coordenado pela Fiesp e produzido em conjunto com associações e empresas industriais (Abiogás, Abrema, Unica, Abividro, Aspacer, Anfacer e Scania) e entregue ao governador Tarcísio de Freitas. O documento reforça o potencial do estado como nova fronteira energética no país.
De acordo com o estudo, São Paulo pode produzir, no curto prazo, até 6,4 milhões de metros cúbicos por dia de biometano, o que equivale a 32% do consumo atual de gás natural ou 24% do diesel utilizado no transporte. Este volume viria de 181 plantas, sendo 84% do setor sucroenergético e 16% de aterros sanitários. As estimativas indicam que é possível gerar investimentos entre R$ 29,7 e R$ 46,2 bilhões nas plantas de produção de biogás e biometano.
Produzido a partir de substratos como vinhaça, torta de filtro da cana e resíduos sólidos urbanos, o biometano oferece uma alternativa sustentável ao gás natural e ao diesel.
Estima-se que o volume produzido poderia evitar a emissão de até 24,5 milhões de toneladas equivalentes de CO2 por ano, ou seja, alcançar 16% das metas de descarbonização, além de gerar 20 mil empregos diretos e indiretos.
Apesar do potencial expressivo, o principal obstáculo identificado pelo estudo para o desenvolvimento de uma indústria paulista de biometano é a competitividade. Para ser uma opção viável para o consumidor final, sobretudo para o setor industrial, o biometano precisa ser competitivo quando comparado a outros energéticos substitutos, especialmente o gás natural, posto que são totalmente intercambiáveis.
Atualmente, o custo elevado de logística encarece o produto — já que as regiões com maior potencial de produção muitas vezes estão distantes dos polos de consumo. Para contornar esse desafio, o estudo propõe a criação de 15 polos regionais de produção, conectados por 2.900 km de gasodutos, num investimento estimado em R$ 2,9 bilhões.
A produção concentrada permitiria ganho de escala, eficiência logística e maior integração com a rede de gás natural existente.
O setor de transporte pesado e a indústria são os principais alvos de curto prazo. Com incentivos adequados, o biometano pode substituir parcialmente o diesel em frotas de caminhões e maquinário agrícola, especialmente em modelos de autoconsumo nas próprias usinas e aterros, onde o combustível é produzido e utilizado localmente.
O tamanho do mercado de biometano, juntamente com seus potenciais benefícios econômicos, sociais e ambientais, é relevante para a transição energética e a descarbonização do estado de São Paulo. Trata-se de uma solução viável e eficiente para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, promover a sustentabilidade e contribuir para as metas climáticas estaduais. Para tanto, é essencial que o estado desenvolva um programa estratégico para o biometano alinhado ao plano energético paulista e às metas de redução de emissões de carbono.
Com políticas públicas bem calibradas, financiamento acessível e valorização de seus atributos ambientais, o biometano pode posicionar São Paulo como líder na produção e utilização do combustível, bem como um exemplo de inovação e sustentabilidade no setor energético.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)