REPRODUÇÃO HUMANA

HU oferece 40 tratamentos de fertilização gratuitos por ano

Por Camila Bandeira | JORNAL DE JUNDIAÍ
| Tempo de leitura: 4 min
Arquivo pessoal
Ludmila com o filho Logan e a mãe Lúcia
Ludmila com o filho Logan e a mãe Lúcia

Conquistar a gravidez nem sempre é um caminho simples. Para muitos casais, o sonho de gerar um filho no ventre se transforma numa jornada marcada por esperança, dor e persistência. A fertilização in vitro (FIV), uma das principais técnicas de reprodução assistida, é um processo complexo e emocionalmente desafiador, no qual as mulheres vivenciam sentimentos que vão do otimismo à frustração. É uma fase de intensa ansiedade e estresse, capaz de afetar o bem-estar físico e emocional de toda a família.

No Hospital Universitário de Jundiaí, a atuação ocorre de forma diferente, com foco principalmente na orientação e na formação de profissionais. Por meio de uma parceria entre a Faculdade de Medicina de Jundiaí e o Instituto Sapientiae cerca de 40 casos por ano conseguem acesso ao tratamento de fertilização in vitro de forma subsidiada. 

“Existe uma grande porcentagem de mulheres que têm dificuldade nesta área e, portanto, essa formação é fundamental para orientá-las, mesmo que não tenhamos um serviço de reprodução assistida no SUS", explica o médico João Bosco Ramos Borges, professor titular de ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí.

Ainda assim, o Hospital Universitário, por meio da parceria da Faculdade de Medicina de Jundiaí com o Instituto Sapientiae, oferece a alguns casais o acesso ao tratamento. Segundo o médico Edson Borges, que também atua no HU, "Funciona da seguinte maneira: os casais sabem da Associação Instituto Sapientiae, pelos meios de comunicação ou por contato entre eles. Entram na plataforma no site e fazem a inscrição. Mediante o perfil dos casais e o subsídio que temos no Sapiente, fazemos a seleção. Consultamos muitos casais, mas conseguimos tratar de 30 a 40 casais por ano, porque é totalmente subsidiado. A maioria recebe orientação; uma pequena parte realiza o tratamento".

Para se inscrever, basta clicar aqui. As inscrições vão até o dia 18 de julho.

O Jornal de Jundiaí procurou outras mulheres da cidade para compartilhar suas histórias, mas muitas preferiram não expor suas trajetórias. Quem aceitou dividir sua experiência foi Ângelica Simão (nome fictício), que enfrentou o desafio nos anos 90, quando o tratamento ainda era incipiente no Brasil.

"Eu já me encaminhava para os 40 anos, e o sonho da maternidade vinha sendo continuamente adiado. Mesmo sem usar métodos contraceptivos, o tempo passava e eu não engravidava", conta. Após procurar diversos médicos, sem encontrar o acolhimento esperado, conheceu um médico de referência nacional em reprodução assistida. “Com a minha idade, as chances naturais diminuíram, e a FIV me trouxe esperança. Fiz uso de medicamentos para melhorar a qualidade dos óvulos, que foram coletados e fecundados em laboratório”.

Foi somente após a terceira tentativa que o positivo chegou. "Foram implantados quatro embriões e nasceram minhas gêmeas hoje com 27 anos. Passei pelos cuidados de uma gravidez tardia, mas sempre com esperança", relata.

Outro exemplo é o de Ludmila Costa, de Uberaba (MG). Diagnosticada com endometriose, perdeu um ovário e uma trompa aos 33 anos. "Minha primeira FIV foi em 2017, aos 36 anos. Não consegui engravidar. Por mais que eu achasse que estava preparada, sempre ficamos esperançosas e confiantes", conta.

Foram cinco captações de óvulos e sete transferências embrionárias. "O primeiro positivo foi uma gestação ectópica. Muitas pessoas deram parabéns, mas depois foi um balde de água fria." Depois disso, outros testes negativos, até finalmente a chegada do tão esperado filho, hoje com 5 anos. "Quando veio o positivo, eu fiquei com medo de comemorar. Tive crise de pânico quando ele nasceu. Mas com o apoio do meu marido e dos meus pais, passei a curtir. Fiz e faria novamente. Não é um caminho fácil, muitas vezes é solitário".


O lado emocional também foi um dos maiores desafios enfrentados por Ludmila durante o processo. "Após a primeira tentativa negativa eu fiquei muito decepcionada. Em alguns momentos me questionava: será que não é para eu ser mãe?", lembra. "Passar por duas perdas, sendo uma delas com cirurgia por causa de uma gravidez ectópica (ocorre quando um óvulo fertilizado se implanta e cresce fora da cavidade principal do útero), e ainda quatro negativos, exigiu muita resiliência. Já aconteceu de eu parar na estrada, no caminho para transferir o embrião, e chorar, chorar, chorar, me perguntando se eu ia aguentar", relata. Apesar dos momentos de dor, Ludmila sempre encontrava forças para seguir. "Enxugava minhas lágrimas, respirava fundo e ia, mantendo sempre o otimismo de que uma hora daria certo".

O médico Felipe Dieamant,  explica de forma didática como funcionam os tratamentos. “Precisamos primeiro avaliar a disponibilidade e qualidade dos gametas: óvulos e espermatozoides. Depois, definimos como ocorrerá o encontro desses gametas seja por namoro programado, inseminação artificial ou fertilização in vitro. Na FIV, captamos os óvulos, fertilizamos em laboratório e transferimos o embrião ao útero, aumentando muito as chances de gravidez", explica.


Apesar dos avanços médicos, os desafios externos persistem. “No terceiro mundo, há poluição química, pesticidas, poluentes industriais, infecções genitais e doenças como endometriose, que aumentam a infertilidade”, destaca o médico João Bosco.

Cada história de fertilização é uma prova de força e esperança, refletindo a luta silenciosa de milhares de casais em busca do sonho da maternidade e paternidade.

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