OPINIÃO

O “balaio de gato” da imprensa e mídias sociais 


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Que balaio de gato virou a imprensa brasileira! Balaio? Gato? Já explico. Experimente carregar dois gatos dentro de uma pequena cesta de vime. O resultado é uma tremenda confusão, até que o cesto esteja totalmente destruído e os bichanos libertos. Essa era uma expressão usada pela minha bisavó (eu tive o privilégio de conviver com ela) quando uma situação saía de controle por imprudência de uns ou fofoca de outros – não havia “cristão” que saísse ileso!

A “grande” imprensa parece que encolheu e se transformou nos antigos e temidos tabloides sensacionalistas. Os jornais diários impressos eram “grandes”, na circulação e no formato. Verdadeiros formadores de opiniões. Qualquer fato era apurado com atenção e cuidado, os dois lados tinham voz, ou melhor, aos “foquinhas” (jornalistas novatos) os editores ainda os desafiavam a “cavar” mais fontes para “apurar” e averiguar qual das partes era confiável. Por sua vez, os tabloides tinham exatamente a metade da medida dos grandes. A versão sensacionalista da notícia sempre estava escancarada na capa, mas ainda assim, no chamado miolo do jornal, as matérias eram devidamente explicadas, bem como, era possível encontrar pelo menos duas versões do mesmo fato.

Até os anos 2000, poucas redações eram equipadas com internet. Foi a partir de 2010 que ocorreu a expansão e integração das redações – impresso, digital, redes sociais.

Ficou muito mais fácil a checagem dos fatos. No entanto, o que presenciamos hoje é a generalização do “copy-past”, privilegiando clicks, com sensacionalismo e escândalo, engrossando falas superficiais, vazias com uma única versão da “história”.

E o furor do “copia e cola” da semana foi para a Cacau Show que ganhou as manchetes das mídias, com o possível comprometimento da reputação da marca e de seu criador, Alê Costa. É possível listar uma série de notícias, posts, nos mais variados formatos, sem a profundidade de apuração que o caso requer.

O escritor do livro “O Nome da Rosa”, Umberto Eco, semiólogo, filósofo e professor universitário, em 2015, já expressava sua preocupação sobre o impacto da internet, especialmente nas redes sociais, com os rumos da informação. Ele declarou: "As redes sociais deram o direito de falar a legiões de imbecis, que antes falavam apenas no bar, depois de um copo de vinho, sem prejudicar a coletividade. Eles eram rapidamente calados, mas agora têm o mesmo direito de palavra que um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis."

Surfar levianamente na onda dos likes e compartilhamentos pode ser devastador. “Ser mais polêmico gera mais visibilidade que ser coerente ou ético.” Eco não critica o acesso à fala, mas sim, a ausência de filtro crítico nas redes. Antes, a opinião pública era mediada por jornalistas, professores, editores e instituições. Com a internet, todos têm voz, mas sem a responsabilidade necessária, preparo ou compromisso com a verdade, dando origem a ruídos na comunicação, banalização do discurso e desinformação.

Ainda segundo Umberto Eco, “a web igualou a opinião de um especialista à de um ignorante, porque retirou os critérios de validação do conhecimento, o algoritmo valoriza o engajamento e não o conteúdo qualificado.” O “case Cacau Show” talvez possa se enquadrar na máxima expressa pelo autor, na qual a retórica gritou alto, dando espaço para a hostilidade, julgamento, condenação antes mesmo da manifestação pública da contraparte.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)        

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