OPINIÃO

Não é brincadeira


| Tempo de leitura: 3 min

Quem é que já não sentiu as ondas de calor que nos têm assolado? O mundo indicou o ano de 2023 como o mais quente da História e 2024 o suplantou. Será que 2025 será mais ameno?

O verão 2024-2025 foi o sexto mais quente no Brasil, desde 1961, de acordo com o Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia. Grandes volumes de chuva caíram sobre algumas regiões, inclusive a nossa.

 urgente que todas as cidades busquem iniciativas tendentes a reduzir os impactos das emergências climáticas em seu território. Não deixo de sempre invocar o ensinamento do Professor André Franco Montoro, em suas aulas de Introdução à Ciência do Direito na Faculdade da PUC-São Paulo: “Ninguém nasce na União ou no Estado. Todos nascemos na cidade!”. Por isso o município é a instância que deve cuidar com carinho de sua gente.

Há boas experiências em curso. Uma delas é o Movimento Resiliência Urbana em Ação – RUA. É um grupo de pesquisadores que realizou estudos multidisciplinares e se encarrega do mapeamento de práticas eficazes. Há muita coisa que pode e deve ser feita, para que os mais vulneráveis, principalmente eles, que são as vítimas preferenciais dos fenômenos extremos, tenham condições de sobreviver.

Não é uma questão de exclusiva responsabilidade das prefeituras, embora estas devam ser indutoras das políticas públicas das quais depende o atendimento aos ameaçados. É preciso fortalecer redes de cooperação, estimular a criatividade para adoção de novas políticas públicas, zelar pela infraestrutura, ter audácia para fazer o que é preciso, que nem sempre agrada a comunidade e levar a sério a gestão de riscos.

Duas pessoas que se devotaram a esse trabalho são Tatiana Tucunduva, pesquisadora que faz parte da equipe organizadora do projeto, e Carlos Nobre, titular da Cátedra Clima & Sustentabilidade do Instituto de Estudos Avançados - IEA da USP. Este, é considerado o maior climatologista brasileiro e um dos mais respeitados em todo o mundo. Basta mencionar que foi o cicerone do primeiro Presidente dos Estados Unidos que, durante seu mandato, quis visitar a Amazônia. Foi Carlos Nobre quem sobrevoou boa parte daquela região, mostrando ao Presidente Joe Biden a situação da maior floresta tropical do planeta.

A ideia do grupo é muito interessante. Sua proposta é implementar um modelo de governança climática baseado em rede. Uma saudável união entre ciência e gestão pública, além de efetiva participação da sociedade civil. A ideia se inspirou no “Marco de Sendai”, um acordo firmado em 2015 pela ONU, que define quatro prioridades para a redução de riscos dos desastres climáticos. Importante enfatizar que não é adequado chamar de “naturais” esses eventos. Eles só existem porque a humanidade foi cruel ao tratar da natureza como se fora um supermercado gratuito, do qual tudo se extrai, nada se repõe. O exagero na emissão dos gases venenosos causadores do efeito estufa conduziu a Terra à agonia em que ela hoje se encontra e da qual nem todos se dão conta.

As quatro prioridades para a redução do risco dos desastres por nós provocados são: compreensão, fortalecimento da governança, investimento em estudos de risco para a resiliência e a preparação da comunidade para enfrentar esses desafios. 
Cidades muito urbanizadas convivem com o fenômeno das ilhas de calor, retenção de temperatura em zonas sem cobertura arbórea, nas quais o concreto e o asfalto predominam. Hoje, quase 85% da população mora nas cidades. Já passou da hora de se adotar uma política pública suficientemente capaz de atrair a população, pois ela é a maior interessada em evitar mortes e prejuízos, se os eventos cada vez mais intensos continuarem com a frequência prevista pelos cientistas.
 
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

Comentários

Comentários