OPINIÃO

A coragem de ser diferente


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Ultimamente, o diferente precisa, timidamente, pedir licença para existir. Junto com o mais do mesmo, o algoritmo proporciona a “segurança” de que você encontrará exatamente o que precisa, conforme prometido pelo anúncio. E o que as mídias sociais têm nos oferecido? Inúmeras receitas, que vão desde como ter um corpo perfeito, passando pela autoajuda, como ficar rico, lições de comunicação, marketing, liderança, advocacia etc. Você encontra de tudo e sobre tudo, com narrativas e características que parecem ter saído da mesma linha de montagem. A padronização é tão profunda que até o “pensar fora da caixa” virou item de prateleira. Slides de PowerPoint ensinam como inovar dentro do que é socialmente aceitável. Canais de empreendedorismo vendem a ideia de “ser autêntico” com fórmulas replicáveis e métricas copiadas.

“A sociedade da transparência é também a sociedade do desempenho e da positividade excessiva, na qual tudo que escapa da norma precisa ser corrigido”, diz o filósofo sul-coreano, Byung-Chul Han. O excesso de normatização pode paralisar e levar à estagnação. Parece que está todo mundo em cima do muro, cheio de dedos, acovardados, sob o escudo do politicamente correto.

Politicamente correto é uma expressão usada para designar uma forma de se expressar ou agir que evita ofender ou marginalizar pessoas com base em raça, gênero, orientação sexual, religião, deficiência ou qualquer outra característica. Trata-se da busca por respeito e inclusão na linguagem e nos comportamentos sociais. Mas com o tempo, o termo passou a ter uma carga pejorativa associada à censura, exagero e policiamento ideológico, especialmente por críticos que o consideram uma forma de limitação da liberdade de expressão.

À medida que as regras sociais ficaram mais rígidas, embora não escritas, atrofiou a espontaneidade que cedeu lugar à autocensura. As pessoas passaram a medir cada frase, não por empatia genuína, mas por medo de serem mal interpretadas, expostas ou canceladas. O espaço do respeito foi ocupado perigosamente pelo terreno da conformidade e estagnação. Assim, paradoxalmente, um movimento que nasceu para libertar vozes acabou silenciando outras.

A originalidade se transformou na estandardização e na repetição de algoritmos com a falsa segurança da venda calcada na premissa “se está funcionando, vamos copiar”. No temor da falha, a receita do que já deu certo é alvo certeiro. Em um mundo onde a cópia virou norma, ser autêntico é um ato de resistência e coragem.

A palavra coragem tem sua origem no francês "courage", com o sentido de bravura. Poder, valentia, destemor. Manter uma postura firme diante dos riscos, perigos e adversidades que enfrentamos cotidianamente. O dicionário traz, também, outras interpretações como ultrapassar uma circunstância difícil; confiança; perseverança ou dar ânimo.

Nunca foi tão difícil, como nos dias atuais, ter opinião própria e embasada. Ousar ser “essência”, assumir erros, criar conteúdo que mostre os bastidores, valorizar a história real pessoal ou da organização, não apenas uma jornada heroica estilizada. Primar pela originalidade é se recusar a caber num molde, que não lhe pertence, mesmo que embalado em ouro e recheado de falsos elogios.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

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