OPINIÃO

Comemore, torcedor do Paulista FC


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Torcedor é passional, sabemos disso e é algo normal. Quando o time perde, descabela-se, grita e xinga. Quando ganha, vibra, canta e esquece de todos os problemas do mundo.

O nosso querido Paulista Futebol Clube conseguiu o acesso da Série A4 para a A3 diante de quase 9000 pessoas no Estádio Jayme Cintra, no último sábado. E a cidade, com razão, festeja.

Agora, a busca é pelo título contra a União Barbarense, nos próximos dois jogos. Jogo bom, pois são os dois melhores times desta divisão.

A torcida jundiaiense tem que comemorar sim, pois é esporte, entretenimento, ato lúdico. E, durante o campeonato, elogiar ou criticar faz parte. Há aqueles que querem a festa e a fantasia, esquecendo erros de dentro e fora de campo; mas, também, há aqueles que são mais observadores e “cornetam”, buscando justamente corrigir os excessos de otimismo e as vistas grossas no processo administrativo do futebol.

“Cornetar” um time de futebol surgiu no começo do século XX, mais exatamente em 1930. Os funcionários da Indústria de Ferramentas Corneta, nos intervalos de trabalho, se reuniam num bar nas proximidades do Palestra Itália para discutirem o dia a dia do time, que um dia se chamaria Palmeiras. Por trabalharem na empresa de nome chamativo, e reclamarem do time por exigirem excelência de jogo, ficaram chamados de “Corneteiros”. Tal termo se tornou comum nos dias de hoje, se referindo aos torcedores exigentes.

O Paulista FC é um time de grande torcida, e obviamente tem grande exigência. Vamos ter chapas-brancas, corneteiros, mal-humorados, ranzinzas, eufóricos e tantos outros! Porém, todos lutando pelo bem do Galo. E nesse acesso, todos comemoraram, pois todos “são Paulista FC”!

Durante a A4, os eufóricos não viam defeitos no time, na sequência de vitórias. Durante a sequência de pontos perdidos, quando o time perdeu fôlego, os corneteiros se avolumaram. Tudo normal e necessário.

Eu não gosto de tal termo, pois corneteiro, apesar de usual no futebol, dá a impressão de pessimista. Mas na verdade são críticos que ajudam a puxar a orelha de quem se empolgou demais e não quer se corrigir. Todo time precisa desse torcedor, para ajudar a pôr os pés no chão.

Sobre a conquista do acesso, vale lembrar: a A4 é fruto de um desmembramento da antiga “Bzinha”, que tentou melhorar o nível tão ruim da última divisão. O Tricolor saiu da 5ª para a 4ª divisão, e agora para a 3ª. Mas, se tivermos atenção, o curioso é que o acesso se deu pela mesma diretoria que levou o time à divisão mais baixa da história do Galo, e agora o devolve a A3, onde estava em 2019.

Repito: festeje-se o acesso, vibre e cante. Parabéns a todos, e nós ficamos felizes. Mas que isso não esconda os problemas que ainda existem: a questão da transparência na gestão, a expulsão de conselheiros e sócios que criticaram a administração atual e a obscuridade e desinfiormação do processo de SAF.

Faço minha as palavras do jornalista Mauro Cézar Pereira: “um título pode mascarar a gestão de um clube, iludindo o torcedor”, durante o Programa Bate-Pronto da Rádio Jovem Pan, em referência ao Corinthians. Vide que isso é comum a várias agremiações: a conquista, meritória, veio. Mas os problemas ainda ficam... vinte dias depois da conquista do Campeonato Paulista, o Timão demitiu o técnico, há a questão da presidência do clube estar envolvida em investigação policial e a dívida do time subiu para 2,5 bilhões de reais. Lá, os corneteiros (ou críticos, ou oposição) festejaram também a conquista e puderam mostrar as mazelas.

Para mim, o lugar do Paulista é transitando entre A1 e A2 do Estadual e idem entre Série B e C do Nacional.

E viva o acesso do Paulista FC!

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

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