
O Centro de Jundiaí, por muitos anos o coração comercial da cidade, enfrenta um esvaziamento preocupante. Ruas tradicionais como Rangel Pestana e Marechal Deodoro, antes movimentadas e repletas de vitrines, hoje acumulam placas de “vende-se” e “aluga-se”. A vacância já atinge inclusive vias secundárias da região.
Para quem vive a realidade da região central, o alto valor dos aluguéis é o maior impeditivo para que novas atividades se instalem. Além disso, a sensação de insegurança, o número de imóveis abandonados e a falta de atrativos à noite têm afastado consumidores e desestimulado os comerciantes.
Flávia é proprietária uma ótica no Centro, faz parte de grupo de comerciantes e moradores que se mobiliza por mudanças. “A estrutura do Centro é excelente, tem transporte público, teatro, comércio tradicional. Mas está caro demais manter um ponto aqui”, relata. “A gente quer mudança. A sensação é de abandono”.
A percepção de abandono também é compartilhada por Samira Girardi, proprietária de uma farmácia na esquina da rua Torres Neves com a Rangel Pestana. “O Centro de Jundiaí hoje enfrenta uma situação de verdadeiro abandono. Quem trabalha aqui sente isso na pele. Nós, comerciantes, temos medo. E o pior: os clientes também têm medo. Estamos completamente desprotegidos”, compartilha.
Segundo ela, furtos acontecem diariamente, e há relatos constantes de tráfico de drogas e violência, inclusive durante o dia. “É urgente que algo seja feito. Queremos que o Centro volte a ser um lugar seguro para os clientes, para quem trabalha aqui, para os moradores, para todos. Mas, do jeito que está, isso está cada vez mais difícil”, desbafa a dona da farmácia.
Samira Girardi
Samira destaca que a mobilização de comerciantes e moradores tem crescido, e o objetivo é pressionar o poder público por soluções. “Precisamos de visibilidade, de ações efetivas, para que a gente consiga transformar essa realidade e devolver ao Centro de Jundiaí a segurança e o respeito que ele merece”, diz.
Diante do cenário, o vereador Henrique Parra (PSOL) propôs, juntamente com moradores e comerciantes, um pacote de 16 medidas voltadas à revitalização do Centro, entre elas a redução do IPTU como incentivo fiscal e a criação de um programa de locação social. A proposta prevê subsídio de até R$ 850 por mês para famílias de baixa renda alugarem imóveis na região central. “Se o Centro morre, é ruim para todo mundo: comércio, empregos, economia local. Reverter esse processo depois é muito mais caro”, afirma o vereador.
Para alguns comerciantes, ações pontuais já demonstraram potencial de impacto positivo na revitalização. É o caso do Júlio Rosa, prorietária de uma livraria. Segundo ele, a reforma do espaço e a instalação de bancos trouxeram mais movimento para a rua onde está localizado. “O Centro das Artes foi algo muito bom que aconteceu aqui para a gente. A revitalização da rua com os bancos foi fundamental e deu um resultado bem positivo. Mas isso precisa ser estendido para outras partes do Centro.” Ainda assim, ele destaca um desafio que permanece: a falta de vagas de estacionamento. “A nossa luta agora é conseguir bolsões de estacionamento. Estacionar no Centro é muito difícil, e isso espanta o público que vem de carro”.
Além das propostas fiscais e habitacionais, o plano inclui policiamento de bicicleta, incentivos para restaurantes e centros culturais, bolsões públicos de estacionamento, retrofit de prédios antigos e medidas de requalificação urbana. A ideia é devolver vida e movimento ao Centro, hoje marcado por imóveis vazios e calçadas pouco movimentadas.
Plano de recuperação
Enquanto o Legislativo apresenta propostas, a Prefeitura de Jundiaí também avança em iniciativas próprias voltadas à recuperação da área central. A estratégia está sendo conduzida pela Unidade de Gestão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (UGPUMA), que coordena um grupo de trabalho intersetorial com participação de diversas secretarias municipais. A proposta é tratar o Centro como um bairro vivo, com identidade própria, demandas específicas e capacidade de atrair investimentos, moradores e atividades culturais.
“Recuperar o Centro de Jundiaí é um compromisso com a história da nossa cidade e com as pessoas que vivem, trabalham e circulam por ali todos os dias. Estamos olhando para essa região com o cuidado e o planejamento que ela merece, ouvindo a população, unindo forças entre secretarias e construindo soluções sustentáveis”, afirma o prefeito Gustavo Martinelli.
Entre as frentes de atuação estão a revisão de projetos de requalificação de praças, elaborados em gestões anteriores, que agora incorporam dados atualizados do Censo 2022, diretrizes de drenagem urbana e limites orçamentários. Como os recursos disponíveis são provenientes de financiamentos, o planejamento cuidadoso é considerado essencial.
Para quem trabalha no Centro a cena de portas fechadas virou rotina
Além disso, equipes da Prefeitura mantêm um diálogo constante com lojistas, moradores e representantes do Legislativo, colhendo percepções e sugestões de quem convive diariamente com a realidade do Centro. A escuta ativa é apontada como estratégia fundamental para decisões mais assertivas e efetivas.
“Nosso objetivo é tratar o Centro como um verdadeiro bairro da cidade, com identidade própria e demandas específicas. Estamos unindo dados técnicos, diálogo com a população e responsabilidade fiscal para repensar os espaços públicos com foco na qualidade de vida, atratividade urbana e estímulo à ocupação saudável da região”, complementa André Ferrazzo, gestor do Planejamento Urbano e Meio Ambiente.
A administração municipal acredita que o grande número de imóveis fechados no Centro de Jundiaí acompanha uma tendência nacional, motivada por transformações nos hábitos de consumo como o avanço do comércio online e pelo aumento da sensação de insegurança. Ainda assim, acredita-se que, com planejamento técnico, integração entre as secretarias e participação da sociedade civil, será possível reverter esse cenário e devolver à região seu protagonismo histórico e cultural.
O Jornal de Jundiaí entrou em contato com diversas imobiliárias que atuam na região central para entender os valores praticados nos contratos de aluguel e venda de imóveis comerciais. No entanto, a maioria não respondeu aos questionamentos da reportagem. Apenas uma empresa retornou o contato e informou que, nos últimos meses, não houve reajuste significativo nos preços. Segundo a corretora, o que tem motivado a saída de comerciantes do Centro não é necessariamente o valor cobrado, mas sim a sensação de abandono da área, marcada pela insegurança, queda no fluxo de clientes e falta de atratividade urbana.
Enquanto isso, comerciantes seguem na resistência, em meio a vitrines vazias e esperança e acreditando que o podem virar o jogo e voltar a ter o Centro como antes ou até melhor.
Comentários
1 Comentários
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Cidinha 20/04/2025Realmente o centro está abandonado...evito de ir no centro...além dos aluguéis caríssimos...o maior problema sao os moradores d rua ..que infestam o centro e alguns bairros.que ficam Px do centro...a ponte são João também...está infestado...e o poder público nada faz...sem contar que muitos deles recebem auxílio do governo p usar drogas...programas do governo uma furada geral...basta não ter registro em carteira pra receber...totalmente Descabivel....deviam de ter uma triagem rígida para selecionar cidadão ..que é Cadastrado p receber auxílio...pq esse dinheiro serventia muito na saúde que está um caos.