Muita coisa pode acontecer em cem dias. Napoleão fugiu da ilha de Elba, retomou o trono de França e se pôs em marcha contra os exércitos da Sétima Coligação e... perdeu! Amyr Klink navegou sozinho aproximadamente 5 955 quilômetros, cruzando o Oceano Atlântico. Na Primeira Guerra Mundial, a chamada Ofensiva dos Cem Dias foi uma série de ataques das tropas aliadas contra os Impérios Centrais entre 8 de agosto e 11 de novembro de 1918. Esta ofensiva foi tão avassaladora que levou ao armistício.
Cem dias. Pouco mais de três meses. Período de experiência segundo a legislação trabalhista.
Na nossa história "jundiaiana", vivemos os primeiros cem dias do governo Martinelli.
Começo pelo poder executivo: tenho amizade com muitas pessoas do primeiro escalão e percebo da parte deles uma real e honesta vontade de fazer a diferença. E espero que consigam. Mas o desafio é grande porque, ao mesmo tempo que há gente muito capaz, na esteira tem muitos correligionários (especialmente no segundo escalão) nomeados claramente por conta de acordos políticos, e não por capacidade.
Muito pelo contrário: conseguiram seus cargos e estão cheios de vingança e rancor de qualquer pessoa que tenha feito campanha para José Antonio Parimoschi. A tal conciliação não me parece ter vindo. Por isso sempre disse que é muito complicado transformar a disputa política em uma luta do "bem" contra o "mal". Ambos conceitos são bem amplos e relativos. Ainda mais em política.
Não sinto, ainda, grandes mudanças na conduta da máquina pública.
Mas concretamente, pensando na minha realidade, percebo algumas coisas: o trânsito ficou pior. Moro no Centro e vivo em meio a um abandono cada vez maior. Mas seria leviano colocar essas responsabilidades apenas nas costas do atual prefeito. Não. Trânsito e abandono do Centro estão há muitos anos entre as grandes preocupações dos moradores da Terra (ainda) Querida.
Já o legislativo...
Ah, o legislativo.
Não está fácil. Exceto uma meia dúzia de edis críticos construtivos e que possuem traquejo para lidar com o povo (eu sinto vergonha ao escrever que essa característica não faz parte da regra, mas da exceção), o restante é uma mistura de verborragia e despreparo impressionantes. Poucos são os que tentam (entre uma gritaria e outra) travar debates importantes e levantar questionamentos realmente relevantes para a cidade. Uns sobem à tribuna apenas para gravar seus videozinhos para gerar engajamento. Outros nem conseguem esconder que ainda estão deslumbrados demais com o "poder".
E ainda teve quem se colocou contra a mudança de horário das sessões. O que para mim é um debate tão absurdo que nem deveria existir: afinal, como imaginar a Casa do Povo sem povo? Como imaginar vereador que não ouve o povo como um todo, e não apenas quem ele acha que o elegeu?
Em cem dias já teve tanto dedo na cara e gritaria que bate saudade dos folclóricos vereadores de bairro, paternalistas, que faziam apenas um assistencialismo e não queriam guerra com ninguém. Esses ao menos faziam algo pelo povo sem violência...
Que os próximos cem dias sejam mais reveladores para o executivo e menos violentos (verbal e fisicamente) para o legislativo. Oremos.
Samuel Vidilli é cientista social