OPINIÃO

Cyberbullying: quando a violência virtual fere mais


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O seriado “Adolescência”, da Netflix, tem dado o que falar... Muitos pontos de vista foram suscitados e o debate caminha, invariavelmente, para onde a educação que permitimos levar aos nossos jovens vai conduzir a humanidade. Uma das perspectivas que muito me chamou a atenção foi a “evolução” do bullying para o cyberbullying. A escola anárquica, alunos pelos corredores empunhando celulares, mergulhados no universo digital, alienados do aqui e agora. Brincadeiras de gosto duvidoso e a chacota explícita dirigida aqueles que não pertencem ao mesmo grupo. Professores desmotivados que não conseguem impor limites. Disciplina? O que é isso para jovens que desconhecem as consequências de seus atos?

Assim como o avanço da tecnologia, com presença constante nas redes sociais e consequentemente na vida cotidiana, o bullying deixou de se restringir aos ambientes físicos, avançou e ganhou o espaço digital. O cyberbullying, como é denominado, pode provocar danos ainda mais graves do que o tradicional. Representa uma forma insidiosa de violência, apesar de não deixar marcas visíveis e resultar em feridas emocionais profundas e irreversíveis. A psiquiatra e escritora, Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, afirma que a agressão digital, ao ultrapassar barreiras físicas e temporais, impõe desafios para a saúde mental dos jovens, cuja amplitude, permanência e, muitas vezes, o anonimato podem potencializar os efeitos devastadores em crianças, adolescentes e até adultos. 
Embora ambos envolvam práticas de intimidação, humilhação e exclusão, o cyberbullying apresenta características que potencializam seus efeitos psicológicos como o alcance ilimitado. Diferentemente do bullying tradicional, que ocorre em ambientes delimitados, como dentro ou aos arredores da escola, muitas vezes testemunhado por colegas ou professores, o cyberbullying expõe a vítima no espaço público das mídias sociais, a qualquer hora, em qualquer lugar. Muitos agressores se escondem atrás de perfis falsos, o que dificulta a identificação e aumenta a impunidade.

As ofensas publicadas na internet podem permanecer online indefinidamente, gerando um ciclo contínuo de sofrimento.

Na trama da Netflix, um adolescente de apenas 13 anos comete um crime hediondo. Revelando os perigos ocultos que podem permear a vida daqueles que estão imersos no mundo digital, sem a supervisão de um adulto. As consequências emocionais do cyberbullying podem desencadear efeitos devastadores, sobretudo na formação da identidade dos jovens, enfatiza a Dra. Ana Beatriz, além de causar depressão e ansiedade crônica, síndrome do pânico, ideação e tentativas de suicídio, isolamento social, dificuldades de relacionamento, baixa autoestima e distorção da autoimagem.

Vivemos um momento preocupante. A narrativa da série reforça a percepção de que muitos adolescentes ainda não conseguem medir a gravidade de seus atos, com comportamentos irresponsáveis e desprovidos de empatia. O impacto emocional é amplificado no ambiente virtual pela rapidez, disseminação e exposição das informações evidenciando que a falta de conscientização e de suporte adequado pode culminar em consequências trágicas, ressaltando a urgência de uma abordagem educativa e preventiva.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

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