OPINIÃO

Tudo piorou e continuamos surdos


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Parece não adiantar o grito de socorro da Terra, alicerçado pela ciência. Em 2024, a concentração de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa atingiu o nível mais elevado dos últimos oitocentos mil anos! Aquilo que parecia remoto – a elevação do nível do mar – caminha célere. A última década se caracteriza como os dez anos mais quentes da história. Quem o afirma é a OMM – Organização Meteorológica Mundial, órgão da ONU, que divulga dados climáticos alarmantes.

Já desrespeitamos o Acordo de Paris e o fato de a grande democracia ianque deixá-lo mostra que ele é letra morta e que não se pode confiar nas lideranças mundiais. Nunca antes aconteceu que todos os anos da década estivessem entre os mais quentes da série. Até aqui, cerca de noventa por cento do aquecimento do planeta foi absorvido pelos oceanos. Em 2023, a temperatura dos mares foi a maior dos sessenta e cinco anos de registro e de 2005 a 2024, a taxa de aquecimento dobrou em relação à de 1960 a 2005.

O que isso significa: degradação dos ecossistemas marinhos, perda de biodiversidade, intensificação de tempestades tropicais. O mar continuou subindo e seu nível persistirá em elevação. Ainda que hoje, por milagre, baixasse a emissão de carbono, o aquecimento dos oceanos continuará até final do século 21. As calotas polares derretem depressa.

Será que ninguém percebe que 2024 nos ofereceu a resposta daquilo que temos feito com o nosso planeta anos a fio? Tivemos as enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios em todo o Brasil, inclusive no Pantanal e nos canaviais paulistas. Houve destruição de casas, de infraestrutura, perda de terras agrícolas. Caiu a produção do agronegócio. Tudo se deve à excessiva, lastimável e nefasta emissão dos gases causadores do efeito estufa.

O Secretário-Geral da ONU já está sem voz de tanto pregar no deserto. Ainda assim, tem coragem de conclamar a atuação dos líderes. Eles precisariam ampliar os esforços globais para limitar o aquecimento global. É urgente levar a sério os Planos de Ação Climática, a exemplo do que ocorre em São Paulo, onde ações para adaptar a cidade aos eventos extremos que seguramente virão, constam do PLANCLIMA e do Plano de Metas, que passará a fazer parte do Orçamento Climático, por determinação do prefeito Ricardo Nunes.

Outra não é a tônica do Embaixador André Corrêa do Lago, autoridade designada pelo governo federal para presidir a COP30. Para ele, é urgente a ação climática coordenada e ambiciosa. O intento é chamar o mundo para um mutirão global contra as emergências climáticas.

A luta climática deve ser mais real e tangível para todos os setores da sociedade. A COP30 é a oportunidade única, talvez a última, de conscientizar a população. É preciso começar em cada cidade, para abranger regiões e chegar a convencer toda a nação, para que se una às demais. Como o brasileiro gosta de futebol, é urgente fazer com que a COP30 seja uma verdadeira “Copa do Mundo”, para um fim específico: salvar a humanidade. Quem perder esse jogo perderá o seu espaço na Terra, a oportunidade de continuar a experienciar esta aventura sobre um planeta do qual tudo tiramos e nada repomos.

Todas as pessoas escrupulosas, preocupadas com suas proles, com suas famílias, com o futuro delas, precisa colocar em primeiríssimo lugar, em seus interesses, a restauração da natureza. Plantar mais árvores, salvar os córregos, economizar água e energia. Andar mais a pé, usar transporte coletivo e movido a combustível limpo. Está na hora de mostrar que somos racionais. Ou, então, entregar-se ao caos.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br )

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