A Cidade Matarazzo, em menos de uma década, se tornou um ícone em São Paulo. Implantado no antigo Hospital Matarazzo, o complexo fica na Bela Vista e se tornou endereço de luxo e turismo na cidade.
Aqui interessa falar do projeto da torre anexa, que abriga uma Mata Atlântica nos jardins dos apartamentos, e que hoje está consolidada e parece normal. Árvores foram içadas e ancoradas nas bordas do edifício, projeto do arquiteto francês Jean Nouvel (1945), Prêmio Pritzker de 2008 e célebre pelos projetos inusitados como esse exitoso, formou uma mata nas lajes de cada apartamento.
Um dos metros quadrados mais caros de São Paulo, a Cidade Matarazzo está a 200 metros da Avenida Paulista e do MASP, e mais luxuosos, os apartamentos residenciais da Torre Mata Atlântica, podem custar cerca de 15 milhões de reais. Tem peculiaridades que são instigantes, como as estruturas em forma de troncos que cobrem a fachada e as varandas que têm projeto de paisagismo rigoroso em que realmente somente entraram indivíduos da Mata Atlântica. A localização onde esse jardim está, em frente aos apartamentos, não é de propriedade do dono do apartamento, mas faz parte do edifício e é controlado e mantido pelo condomínio com critérios técnicos, botânicos e de plantios que garantem a perenidade e a saúde dos indivíduos, bem ao contrário do que vem acontecendo nas árvores e praças de São Paulo.
Mas a novidade é que, nos novos lançamentos, esse item dos paisagismos com plantas da Mata Atlântica são necessários itens de valor agregados como luxo nos empreendimentos.
Como matéria do jornal Folha de São Paulo do último sábado – 22 de março – a valorização de vegetação como valor agregado para empreendimentos de luxo vem se tornando item obrigatório para os novos projetos, como os do arquiteto francês radicado no Brasil Greg Bousquet, que segue essa linha desde o Triptyque, escritório que com ousadia fez na Vila Madalena esses jardins verdes na fachada, e agora Benedito Abbud está fazendo esse trabalho de paisagista assinando esses empreendimentos de luxo, como o da Cidade Matarazzo.
Por aqui, estamos a pé! De árvores, de conservação de árvores e de legislações no código de obras que exijam o plantio de árvores e plantas da Mata Atlântica em seus projetos e lançamentos. O que se vê são edifícios de luxo expostos violentamente ao sol, sem nada protegendo desse calor infernal que estamos passando e pior, sem nada de vegetação, sem possibilidade natural de diminuir esses efeitos sobre esses apartamentos que ficam expostos e fritando ao sol tórrido desses tempos.
O luxo, ao que parece, não pegou entre as construtoras daqui, e acredito que será um diferencial para aplacar o sol que nesses projetos, perfeitamente aprovados pela prefeitura, acabam por torrar os moradores, atraídos pela vista e outros motivos que acabam mascarando problemas de conforto térmico que estarão presentes no primeiro verão desses edifícios.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)