
O governo federal anunciou a criação da Faixa 4 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que permitirá o financiamento de imóveis de até R$ 500 mil para famílias com renda entre R$ 8.000 e R$ 12.000 mensais. A mudança amplia o alcance do programa, tradicionalmente voltado para famílias de baixa renda, e pode impactar o mercado imobiliário de cidades como Jundiaí.
Os financiamentos dessa nova faixa terão juros de aproximadamente 10% ao ano, inferiores às taxas praticadas no mercado, mas superiores às das faixas 1, 2 e 3, que variam entre 4% e 8,16% ao ano. Os recursos virão do Fundo Social do Pré-Sal (R$ 15 bilhões) e da Caixa Econômica Federal (R$ 5 bilhões).
Para Eli Gonçalves Ferreira, vice-presidente da Proempi (Associação das Empresas e. Profissionais do Setor Imobiliário), a medida pode beneficiar a classe média, mas os juros ainda são um obstáculo. “A Faixa 4 poderia trazer um impacto positivo maior se a taxa de juros continuasse no teto da Faixa 3, de 8,16% ao ano. Contudo, está sendo definida para ficar próxima de 10%, o que ainda traz prestações elevadas para uma classe onde 76% das famílias estão endividadas, segundo pesquisa Quaest de fevereiro de 2025.”
No caso de Jundiaí, Eli destaca um desafio adicional: a escassez de imóveis dentro da nova faixa de preço. “A região teve poucos lançamentos para o MCMV e muitas unidades foram lançadas acima de R$ 500 mil nos últimos anos. Espera-se que, mesmo com as taxas previstas para 10% ao ano, o empresário se motive a lançar mais empreendimentos nesse novo segmento.”
O corretor de imóveis Felipe Carmona avalia a novidade de forma positiva, destacando a vantagem das taxas de juros reduzidas. “O grande benefício do MCMV é que a taxa de juros é mais baixa do que a dos bancos privados e já é atrelada desde o início da compra, ficando congelada. A Faixa 4 abriria uma gama maior de alternativas, facilitando o acesso ao financiamento.”
Ele também alerta que, apesar das vantagens, é necessário um planejamento financeiro para arcar com os custos iniciais. “A pessoa precisa estar capitalizada, pois no início terá que pagar a documentação do imóvel e a taxa de obras da Caixa. Durante o período de construção, os gastos são maiores, mas depois o financiamento se torna mais tranquilo.”
Um comprador que preferiu não se identificar compartilhou sua experiência com o programa. “O Minha Casa, Minha Vida me proporcionou uma taxa de juros mais baixa e um prazo longo para pagamento. Na época, fechei um financiamento com cerca de 6% ao ano, enquanto hoje as taxas podem chegar a 9%. Mesmo assim, ainda é mais vantajoso do que outras opções de financiamento.”
Milena e Bruno Sant’Anna passaram por uma trajetória de planejamento até conquistarem a casa própria. Em 2022, com um dinheiro guardado, estavam em dúvida entre comprar um carro ou um apartamento, mas dificuldades no financiamento adiaram o sonho do imóvel. Apenas em 2024, com um valor inesperado, conseguiram concretizar a compra. O casal adquiriu uma unidade enquadrada no programa Minha Casa, Minha Vida, o que facilitou o pagamento da entrada, financiamento e juros. Agora, aguardam ansiosamente a entrega das chaves, prevista para o final do ano.
A ampliação do Minha Casa, Minha Vida ocorre em um momento de desafios no mercado imobiliário, como a escassez de recursos da poupança para financiamento e a necessidade de ajustes nas regras de crédito da Caixa Econômica Federal.
A medida deve ser oficialmente anunciada em abril, após a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão e Vietnã.