A briga começou na porta de entrada de veículos do condomínio. Precisamente diante do aparelho de reconhecimento facial. Uma dança cômica se dá diante da câmera. Rosto para direita – nada. Para a esquerda – nada. Giro 360 graus – nada. Tempo passando, paciência se esgotando... então, um aceno de mão. Nada acontece. O portão permanece imóvel!
Na cabine de controle, há aproximadamente oito metros dali, dois jovens da geração Z (nascidos entre 1998 e 2009), conversavam divertidamente, sem se dar conta da aflição da moradora que tentava entrar no prédio. Num mundo à parte, não percebiam, a cena, até engraçada, diante da câmera de segurança. A moradora, agora agoniada, toca a campainha para sinalizar sua presença. A criançada de plantão passa a fazer perguntas de segurança para identificar a moradora, sem se preocupar em averiguar a marca do veículo e número da placa. Se divertiam com risos altos ouvidos ao fundo no interfone pela incauta moradora, a cada resposta dada tentando comprovar sua identidade para entrar em casa.
Sabemos o quanto o reconhecimento facial facilita a identificação dos moradores, sem precisar de chaves, cartões ou senhas. Dificulta fraudes, acessos indevidos ou tentativas de se passar por outra pessoa. A tecnologia avançada reconhece características únicas do rosto e registra cada entrada/saída com data, hora e imagem. Reduz custos com pessoal presencial e mantém alto nível de segurança.
O meu questionamento não é em relação a utilização da tecnologia, e sim, sobre os funcionários que deveriam estar treinados, atentos e presentes aos acontecimentos que estão passando diante de seus olhos pelas câmeras de segurança. O sistema é confiável? Sim, mas quando temos um imprevisto, quem está no background do aparelho está apto para resolvê-lo? No caso acima, a comunicação assertiva foi esquecida.
Outra dúvida está relacionada ao comportamento da geração Z que parece não estar comprometida com as funções para as quais foram contratados. Eles são bons em se conectar por meio de um interlocutor, no caso, pelas redes sociais – WhatsApp, Instagram etc. Quando se trata do cara a cara, sem filtro, ficam paralisados e não sabem o que fazer.
Os desafios de convivência geracional estão batendo na nossa porta e não adianta fingir que não ouvimos a campainha tocar. As diferenças são gritantes, desde valores, comportamento, a forma como encaram a vida e o trabalho. Será que são seres de outras galáxias? O imediatismo e o descomprometimento para com os valores dos outros é até assustador, pois a máxima “não faço para o outro o que não quero para mim” é irrelevante. Como são uma geração com DNA digital, se não está escrito no “Google”, não existe. Ignoram a experiência ancestral. Têm ouvidos e empatia pelas causas sociais, ambientais, animais, diversidade – gênero, raça, orientação, mas sem colocar a mão na massa... a ação, geralmente é realizada a partir de um sofá confortável, totalmente dedilhada por meio do celular.
Acredito que “a geração mais experiente” pode tentar evitar o duelo. Porque a vivência, o conhecimento adquirido e aplicado é insubstituível. Embora o mundo VUCA – Volatility (volatil), Uncertainty (incerto), Complexity (complexo) e Ambiguity (ambíguo) esteja uma verdadeira muvuca, é a chance para que transformações sejam realizadas por cada um de nós, sem exceção, para a construção de um mundo melhor.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)