OPINIÃO

O valor de uma amizade


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Uma verdadeira amizade pode ser um grande presente na vida das pessoas.

Presente. Eis a palavra que se destaca nessa definição.

E essa foi a tônica da minha vida. Eu sempre valorizei minhas amizades. E que acabava se desculpando, não querendo nenhum conflito, agindo em nome, pensava, de uma diplomacia afetiva.

Dava o braço a torcer em nome da paz, porque sempre acreditei que cada amigo era um grande presente. Um mal contra a solidão, um emplastro que resolveria as angústias da vida adulta e moderna. Nisso, a religião me ajudou (está escrito em Provérbios: o amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade).

Para mim, amizade era, portanto, um presente valioso que poderíamos oferecer e receber, que nos traria felicidade e nos ajudaria a enfrentar as adversidades da vida. Acreditava que era importante cultivá-las a qualquer custo, e sempre com carinho e gratidão, mesmo que isso custasse ouvir grosserias ou opiniões abjetas. Amigo é amigo e quem tem um amigo tem tudo.

Com o tempo, porém, comecei a perceber que em muitos casos só eu pensava assim. Só eu cedia. Só eu compreendia. Isso não era amizade, mas sim subserviência.

E com a maturidade também aprendi que amizade verdadeira é uma relação que precisa ser baseada em quatro pilares: respeito, reciprocidade, honestidade e afeto.

Respeito: eis a palavra que se destaca agora.

Afinal, sempre respeitei absolutamente todas as opiniões. E tentava entendê-las. Cada um tem sua opinião, visão e vivência da vida. Como enriquece saber as mais variadas opiniões sobre um mesmo tempo, pensava eu (ainda penso, na verdade). Nisso, a sociologia me ajudou muito (o papel do sociólogo é entender as ações sociais, e não necessariamente ter de aceitar ou discordar delas).

Mas como em qualquer relacionamento, desentendimentos fazem parte. Discordâncias. Pensava eu que um verdadeiro amigo saberia conversar abertamente para encontrar soluções aos problemas e desavenças. Sim, em alguns casos dar um tempo parecia o melhor, mas nunca havia perdido a esperança de que qualquer amizade pudesse ser restaurada, já que, ao meu ver, os verdadeiros amigos são aqueles que estão ao nosso lado nos momentos bons e ruins também.

O tempo foi me mostrando, porém, que principalmente o respeito precisava ser mútuo para que a amizade continuasse firme. E em nome de algo que imaginava bom, percebi que em muitas situações me anulei em nome de paz e de ficar bem com todos.

E com isso deixei de ser amigo de mim. Deixei de defender minhas ideias. Deixei de ter convicções e opiniões. Vivia em função dos outros, crendo veementemente que defendia, com isso, as amizades. A paz.

E descobri que tem gente que quer apenas o embate. A briga. Gente que não só odeia ser contrariada como exige que você concorde em tudo com ela. Gente que quer que todos sejam convencidos.

Eu, inocente, nunca acreditei que fosse possível isso. Nem todos querem a concórdia. Existem pessoas que são ruins, enxergam-se ruins e querem permanecer assim.

Confesso que isso me chocou. E depois me senti um idiota: como nunca tinha compreendido isso

Como fui ingênuo.

Os presentes tempos e as presentes pausas mostram isso. Que poucos ligam para a concórdia e para a paz. Todos querem ser corretos. Todos querem impor e magoar. Bom... eu cansei de contemporizar.  Não aguento mais me dedicar a temas e pessoas que não valorizam o contraditório.

Falarei e escreverei o que quiser. E quem quiser minha amizade, venha e permaneça em paz. Se quiser compartilhar, terá minhas boas-vindas. Quem quiser ensinar e aprender terá em mim um mestre e discípulo.

Mas com respeito mútuo.

Com honestidade intelectual.

Só assim a amizade será um verdadeiro presente.

Quanto às minhas opiniões nesse espaço, podem discordar de mim à vontade. Ele está aqui para isso.

Às polêmicas, pois!

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)

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