Desde o catecismo, ouvimos com êxtase o Sermão das Bem-Aventuranças, no Evangelho de Lucas (6,20-21). Mas qual a prática dele extraída? Agimos de acordo com a hierarquia estabelecida pelo Salvador? Parece que não. E isso porque não conseguimos observar uma singela e dúplice lição: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. É muito difícil amar o semelhante. Também não é fácil respeitá-lo. E isso é obrigação de qualquer cidadão, para honrar o princípio da dignidade humana.
O que está faltando ao mundo? Amor! Isso não é novidade e já foi cantado em prosa, verso e música. Mas a falta de afeto existe de forma generalizada. Não incide apenas sobre os humanos, mas em relação à natureza. Um desamor que causou a tragédia dos desastres climáticos. Não se diga que são naturais: provocados pela insensatez humana.
Infelizmente, são poucas as pessoas lúcidas que conseguem discernir o quanto poderiam fazer para mudar a tragédia que se avizinha. Temperaturas cada vez mais elevadas. Matando pessoas, tornando outras inválidas. Impedindo a realização de atividades normais, como aulas, trabalho, locomoção e diversão.
Mais séria ainda, a escassez hídrica. O mundo vai ficando sem água. Nós também, por mais que se acredite estarmos num território que foi abençoado com tanta água. É que poluímos muito aquela que sobrou. E sobrou muito pouco. Porque não plantamos árvores, ao contrário: nós as cortamos. A resposta vem como castigo da natureza sobre os humanos.
Para não perder o horizonte da esperança, é preciso recorrer a mentes privilegiadas. Muitas delas estão na profissão docente. O professor é aquele profissional que tem por ofício mostrar soluções para os seus educandos. Convencê-los de que a atuação individual é importante e que muita gente, fazendo muita coisa boa, consegue milagres.
Os educadores são os trabalhadores que merecem todo o respeito por parte dos alunos, de seus pais, de toda a sociedade. Não é só lembrar deles no dia 15 de outubro, a data que celebra seu dia. É agradecer todos os dias e com muita ênfase. Deles depende o futuro da humanidade. Se desistirem, não haverá amanhã para esta aventura multimilenar.
Outro ser provido de condições singulares para ajudar a humanidade a não perder o horizonte da esperança é o artista. O Papa Francisco, um Papa ecológico, não por coincidência escolheu o nome do “Poverello di Assisi”, que chamava todas as criaturas de “irmãs”, escreveu para os artistas e pessoas da cultura que “em tempos de crise da alma e de significado, o artista tem a missão de ajudar a humanidade a não perder a direção, a não perder o horizonte da esperança”.
Os artistas e profissionais da cultura têm o dever especial de participar da construção de um mundo melhor por meio do olhar e do espírito aberto às mazelas do planeta e de levar esperança aonde for possível. “Educar para a beleza é educar para a esperança”, disse o Papa Francisco.
Essa a missão dos artistas, dos profissionais da cultura e dos educadores. Eles são providos de singular sensibilidade sobre a realidade contemporânea e são chamados a “iluminar a estrada” para os outros.
Mas não são apenas eles. Se quisermos prolongar a permanência da vida sobre a Terra, temos de ser mais sensíveis. É difícil, mas não impossível. Vamos tentar?
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)