OPINIÃO

A mais barata tecnologia


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A descarbonização é uma urgência que não pode ser ignorada. O mundo está sendo aquecido a níveis intoleráveis por qualquer espécie de vida, inclusive a humana. A morte ronda os mais vulneráveis: idosos, crianças, portadores de outras comorbidades. Nem todos podem dispor de ar condicionado em suas casas. Por isso, os mais prejudicados são os pobres, os carentes, os excluídos, os invisíveis.

A obrigação do poder público é cuidar de todos. Principalmente dos mais vulneráveis. Por isso, todas as cidades estão adotando táticas de oferecer a seus cidadãos condições de sobrevivência para as altas temperaturas.

Reduzir drasticamente o uso dos combustíveis fósseis é a receita por todos conhecida. Mas encontra resistência de múltipla ordem. A primeira é a econômica. Enquanto houver petróleo para ser vendido e comprador, essa substância que emite gases venenosos causadores do efeito estufa continuará em alta. É incrível que, até mesmo os proprietários de carros flex, prefiram abastecer seus automóveis com gasolina em lugar de usar o etanol. Combustível limpo e renovável.

Mas os que primeiro vão morrer são aqueles que não possuem carro e essa preocupação não passa pela mente de quem procura o que comer a cada dia. São estes os que merecem tratamento prioritário. E a tecnologia mais barata para melhorar a temperatura da cidade é antiga e muito barata. É plantar árvores.

O Brasil precisa de mais de um milhão de árvores, para reposição daquelas que têm sido arrancadas deste Paraíso. Sim, os portugueses, quando chegaram aqui, reforçaram a crença de que poderiam ter redescoberto o Jardim do Éden. Tamanha a exuberância da floresta, da fauna, da biodiversidade que fomos destruindo, de forma insana, ignorante e arrogante.

Enquanto outros países investem bilhões em tecnologias discutíveis, como enterrar o gás carbônico em profundidade de vários quilômetros, exploram o hidrogênio verde, que embora com esse nome, é altamente inflamável, inventam viagens a Marte, o Brasil ainda tem um território generoso, onde as árvores crescem depressa. Há milhares de espécies arbóreas dos nossos biomas. Só da Mata Atlântica, que era o nosso bioma principal, são mais de mil e trezentas. Mas o Estado de São Paulo aceita também espécies do cerrado e até da caatinga.

As cidades inteligentes são aquelas que adotarem a política de uma intensa arborização. As árvores prestam serviços gratuitos de fotossíntese, sequestro de carbono, reduzem a temperatura, ajudam a drenar o solo, mediante a ecotranspiração devolvem à atmosfera a umidade que trará chuvas benditas, não os temporais dos eventos extremos que são a resposta da natureza zangada, depois de tanto sofrer por causa de nossa insensatez.

Essa tecnologia de fácil implementação está disponível. É importante que as cidades com cidadania consciente façam campanhas permanentes em favor das árvores. Da formação de viveiros, da coleta de sementes, do plantio e do cuidado permanente. Uma árvore adulta é fonte de vida e de saúde. Não há cidade que se possa considerar já saturada de árvores ou com uma cobertura vegetal suficiente. Não. Está sempre faltando mais uma árvore, que pode ocupar aquele pedaço de solo ocioso, aquele espaço feio que, adornado por um espécime arbóreo, completará a paisagem, será abrigo dos pássaros e atrairá, com sua sombra, aquele ser humano extenuado e a suar em bicas, tamanho o sol que o fustiga.

Pensemos nisso com seriedade. Melhor: ajamos! Enquanto é tempo...

José Renato Nalini é reitor da, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo ljose-nalini@uol.com.br)

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