Como se fosse na casa do seu Oswaldo na Ponte São João, e é de lá que D. Leta, Picoco, Pituca e os amigos se preparavam para subir para a cidade. As rainhas na frente e a Banda da Ponte no chão, garantindo o som do carnaval. Iam até a praça Rui Barbosa, passando pelo centro e juntando o povo do comércio da sexta-feira à tarde.
Dessas rainhas é bom lembrar: a Neide, minha irmã, foi a primeira, a Vera Toledo, a Jane Prado, rainhas sessentonas que se vestiam como vedetes e já mostravam que estavam longe da terceira idade e debochavam de todo mundo. O escracho era a bandeira e o festival de palavrão era o vocabulário. Se na vida dessas mulheres elas eram francamente contra o conservadorismo, imagine fazendo o papel de Rainhas do Escracho. Foram modernas no tempo delas. A Pituca também foi rainha, a última e a mais novinha foi a Odilies. Ano a ano, cada um uma rainha.
No restaurante Arroz Feijão, da Neide, não era diferente. O som ambiente no almoço da sexta feira já era de samba e já começava esquentar ali. Saíam os clientes, mudava o disco: os sambas enredos das escolas de samba do Rio, tocavam alto até todos saírem, bêbados, prontos para irem para a Banda. Todos se fantasiavam, as vedetes todas com suas meias arrastão e a turma do restaurante virava um bloco, fantasiado com as roupas da cozinha e de garçom.
Dos antigos já se foram muitos. Dos que ficaram, artrite, artrose, alzheimer, a lembrança querida do Seu Oswaldo, da Dona Leta, do Picoco, Pituca, da Jane, do Mano, do Erazê e da Neide. Não vamos esquecer da dupla Yuki & Sutti do Estamos na Nossa, em ação.
Agora, o que peca é a falha da minha memória pelos que se foram.. e por todas as falhas que fiz aqui…
Hoje não é mais aquele bloco, depois de diversos nomes, o Refogado que nem é tão novo assim, virou uma multidão que pulou animada no centro. Não parece com a banda não. Com imenso carro, com som altíssimo, pra todo mundo ouvir, e que vá.
Esse gigantesco bloco do Refogado fez de novo um enorme sucesso ontem. E a memória do início dele na Ponte é pra nós, os que viram essa evolução, muito boa e nostálgica, de doer a alma. Se no Bloco do Baixo Augusta em São Paulo desde o bloco gritavam contra o conservadorismo, em Jundiaí essa sempre foi a regra desde o bloco da Ponte. E não parou!
Nesses tempos da censura e de moralidade fundamentalista é prudente se prevenir com tudo que for possível para manter todas as liberdades que temos, e que no carnaval ficam explícitas. O delicioso “Chupa que é de uva” vai segunda-feira para o clube: VEM PRA RUA, CHUPA!!! A ironia continua mais do que nunca aparecendo nos nomes dos blocos além das fronteiras da cidade. E se os nomes dos blocos daqui ficaram caretas, a gente ainda pode se divertir no “Órfãos do Fígado”; “Lavo, Passo, Cuzinho não”; “Suvaco de Cristo”,”Trema na Linguiça”,” Balanço do Pinto”, “Cutucando Atrás”, “Já Que Está Dentro, Deixa. “
Xô! censura! Nunca mais que “Estamos na Nossa!”
Viva os antigos do carnaval! Viva a Banda da Ponte!
Neste ano haverá? desfiles de 11 blocos de rua, nos dias 23 e 28 de fevereiro e dias 01, 02 e 03 de março, em pontos distintos do município, como no Centro, Vianelo, Ponte Sa?o Joa?o, Cidade Administrativa e Vetor Oeste.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)