Vivemos em um mundo hiperestimulante. Celulares vibram a cada notificação, redes sociais oferecem recompensas instantâneas, alimentos ultraprocessados ativam nossos centros de prazer e séries nos mantêm presos por horas. Tudo isso tem um fator em comum: a dopamina, um neurotransmissor essencial para a motivação, aprendizado e sensação de prazer. No entanto, o excesso de dopamina pode gerar desequilíbrios profundos na saúde física e mental, criando um ciclo de compulsão e esgotamento.
A dopamina é um neurotransmissor essencial produzido no cérebro e atua no sistema nervoso central como um modulador do prazer, da motivação e da busca por recompensas. Ela serve como uma ponte de comunicação entre os neurônios e sua atuação é fundamental para o bom funcionamento neurológico e fisiológico. Ela impacta também na motricidade, tomada de decisões, aprendizado e bem-estar emocional, sendo crucial no mecanismo de prazer. Além disso, está relacionada a distúrbios motores, como doença de Parkinson e a várias condições psiquiátricas. Mas ela não age sozinha, interage com outros neurotransmissores e hormônios, como serotonina e adrenalina, formando uma complexa rede de comunicação no cérebro.
No entanto, o sistema dopaminérgico funciona com base na lei do equilíbrio. Quando há uma liberação excessiva de dopamina, o cérebro reduz a sensibilidade dos receptores, tornando-se menos responsivo a estímulos naturais. Isso explica por que atividades simples, como ler um livro ou caminhar ao ar livre podem parecer desinteressantes para quem está acostumado a estímulos intensos e constantes.
Os impactos do excesso de dopamina na saúde podem ser sentidos no sistema nervoso causando um efeito de tolerância, exigindo estímulos cada vez maiores para gerar prazer. Isso pode levar à ansiedade, falta de motivação e dificuldade de concentração, sintomas comuns em quem está viciado em redes sociais, jogos ou fast food, por exemplo.
Na saúde mental o excesso de dopamina está associado a distúrbios como ansiedade, insônia, compulsão alimentar, até mesmo depressão e algumas condições psiquiátricas, como esquizofrenia e transtorno bipolar, estão relacionadas a uma hiperatividade dopaminérgica.
No corpo, a dopamina influencia a produção do cortisol, o famoso hormônio do estresse. Um excesso constante pode levar à fadiga crônica, inflamação sistêmica e resistência à insulina, favorecendo o desenvolvimento de doenças metabólicas.
Mas o que podemos fazer para reduzir o vício em dopamina já que é possível restaurar o equilíbrio do sistema dopaminérgico e resgatar a sensibilidade aos prazeres naturais?
Podemos fazer um jejum de dopamina, criando períodos sem estímulos artificiais, como redes sociais, junk food e vídeos rápidos, para permitir que o cérebro se reequilibre. Um dia sem telas pode fazer maravilhas para o sistema nervoso.
Os exercícios físicos são excelentes para a saúde cerebral, além de melhorar o fluxo de nutrientes para o cérebro e retardar o envelhecimento das células, promovem a liberação de outros neurotransmissores do bem-estar, além da dopamina, como a serotonina e a noradrenalina.
Caminhadas ao ar livre, por exemplo, estimulam a produção equilibrada de dopamina, serotonina e endorfinas, promovendo bem-estar sem sobrecarregar o cérebro.
Sono de qualidade e descanso adequado, regulam a produção de neurotransmissores. Evite telas antes de dormir.
Exercícios de respiração consciente e meditação ajudam a equilibrar o sistema nervoso autônomo e reduzir a necessidade de estímulos externos, além de melhorar o foco e a concentração.
É essencial reduzir o açúcar e os ultraprocessados e priorizar alimentos ricos em tirosina (como ovos, nozes e peixes), que contribuem para uma produção saudável de dopamina.
Sentir que a vida perdeu a graça sem estímulos intensos, pode ser um sinal de que estamos dopaminérgicamente esgotados. Reduzir a dependência de picos artificiais e resgatar prazeres simples é o caminho para uma saúde equilibrada e uma mente tranquila. Que tal um detox de dopamina para recuperar a energia e bem-estar? Muita saúde a todos.
Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)