OPINIÃO

Ovelha negra da família ainda existe?


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A canção icônica do rock nacional "Ovelha Negra", de Rita Lee, composta em 1975, completa este ano 50 anos. A rebeldia dos anos 70/80, o ímpeto de independência, autenticidade e pensamento crítico parece que ficaram lá trás, num mundo distante. A música era um convite à coragem de ser diferente, à resistência contra padrões sufocantes e à celebração da própria individualidade, lutando contra um ambiente hostil. O Brasil estava sob o Regime Militar, período marcado por censura e repressão.

A música foi um hino consagrado à liberdade de ser quem se é, independentemente das expectativas impostas pela sociedade ou pela família. Inspira a reflexão sobre a importância da autoaceitação e que a verdadeira força está dentro de nós, embora ainda busquemos a validação externa. Ser uma ovelha negra não é tarefa fácil. Em muitos momentos, a rejeição e o julgamento acompanham aqueles que ousam ser diferentes. A sociedade exige enquadramento, padrões de comportamento e escolhas pré-determinadas. Quem desafia essa estrutura pode se deparar com críticas, solidão e até mesmo resistência dentro do próprio núcleo familiar. 

O caminho para a autenticidade é uma verdadeira jornada, repleta de desafios, mas também, de recompensas. É um processo de libertação e autoconhecimento, pois permite que cada um viva de acordo com sua essência. Rita Lee atravessou gerações e continua ecoando nos poucos corações daqueles que, em algum momento da vida, se sentiram insuficientes, deslocados ou incompreendidos. 

A linha do tempo é implacável, a democracia chegou, mas até ela se relativizou. Meio século de experiências trouxeram um avanço tecnológico inimaginável, mas o ser humano, na contramão do progresso permanece parado na mesma estação, talvez piorado. Na era das mídias sociais, aquele que tem a coragem de opor-se com pensamento crítico, transformou-se no chato contestador. A falta do uso do cérebro, transformou o mundo no disputadíssimo jogo entre o FLA e o FLU e já está saindo caro. Se as pessoas não se atentarem podem cair num abismo sem volta, lembrando que esta nova geração, pela primeira vez na história, não ultrapassou a inteligência de seus pais! 

“Ovelha Negra” revelou o sentimento de uma geração que insurgia num grito de independência para os que buscavam expressar seus ideais e viver de maneira autêntica. Hoje, o ato revolucionário contra a padronização caiu em desuso, e a busca por aceitação tomaram outros rumos. A validação pessoal e social está retratada nas imagens e conteúdos massivos publicados nas diversas plataformas das mídias sociais, mesmo que sejam superficiais, estejam maquiados ou produzidos artificialmente – o que vale são os milhares de likes que trarão recompensas financeiras e de ego.

O termo "ovelha negra" sempre carregou uma conotação negativa, sendo usado para descrever aquele membro da família ou da sociedade que não segue os padrões estabelecidos. No entanto, na interpretação de Rita Lee, essa ovelha negra não é um problema, mas sim alguém que tem a coragem de se desvencilhar das amarras e seguir seu próprio caminho. Deixar para trás uma vida de conformidade para buscar sua própria identidade e felicidade. Uma ação que está se tornando cada vez mais desafiante. No fim das contas, ser a ovelha negra pode ser exatamente aquilo que nos torna únicos e verdadeiramente livres.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

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