OPINIÃO

Somos uma cidade inteligente?


| Tempo de leitura: 3 min

O tema das “Smart Cities” ganhou o mundo. Cada cidade quer ser a mais inteligente de sua região, de seu Estado e de seu país. Não é difícil atuar concretamente nessa direção. Primeiro, a liderança local tem de se compenetrar de que o mundo é outro. A geopolítica está sofrendo golpes profundos com a tirania eleita democraticamente e, portanto, o protagonismo das entidades subnacionais cresce em relevância.

A cidade é o cenário que realmente interessa às pessoas. Nela é que se nasce, cresce, vive e morre. Ela precisa ser o porto seguro em que se sente tranquilidade ao caminhar. Uma cidade não pode conviver com o medo. Por isso, é preciso propiciar a todos o acesso a aplicativos que possam comunicar ocorrências suspeitas e pedir o apoio de guarda municipal, de polícia ou de qualquer outra estrutura de atendimento às necessidades cidadãs.

Cidades bem modernas e civilizadas dispõem de instrumentos imediatos de comunicação. Para isso, é preciso treinar a população, a começar pela juventude. Nossas novas gerações já nascem com “chip”, são gerações algorítmicas. Vibram com seus celulares, smartphones e outras bugigangas eletrônicas que transformaram o mundo. Vamos treinar crianças e jovens para que sejam monitores dos mais idosos.

Quando necessário, um sistema de alerta colocará todos de sobreaviso.  O atendimento às chamadas deve ser diuturno e imediato. E precisa ser construída uma rede solidária de comunicação entre todas as pessoas, com um apelo ao voluntariado.

Quem mora na cidade não pode simplesmente ignorar as fragilidades do seu vizinho, da pessoa que mora próximo, daquelas mais vulneráveis. Ser voluntário é bom para a cidade, mas é melhor mesmo é para quem se voluntaria. Fazer o bem traz benefícios imediatos para o seu autor.

Uma cidadania inteligente comparecerá, também, às sessões da Câmara Municipal. O Poder Legislativo, na formatação ideal de Montesquieu, que elaborou a teoria da separação dos poderes, é o mais importante. É o formulador das regras do jogo. Administrar, no Estado de Direito, é cumprir a lei. É isso o que se reserva ao Executivo. E ao Judiciário incumbe fazer incidir a vontade concreta da lei quando houver controvérsia.

Na Câmara Municipal serão elaboradas as normas de convívio que podem aprimorar o convívio local. Há muita coisa que pode ser melhorada em toda cidade. Ela precisa de mais verde, de mais árvores, de mais parques e jardins, de mais água. Tem urgência na recuperação de seus rios e córregos. É preciso conscientizar a juventude, principalmente ela, de que é necessário devolve à natureza tudo o que dela se subtraiu no decorrer de séculos. Os córregos encanados e sepultados, para dar lugar a pistas de corrida, impermeáveis e asfálticas, a servir ao automóvel, mais do que aos humanos.

Os rios convertidos em condutores de esgoto e de imundície produzida por nossa ignorância e insensibilidade. Não é possível que as cidades sejam repositório de resíduo sólido que, em países civilizados, é totalmente aproveitado e revertido em dinheiro para a própria população. O grau de civilização de um lugar se mede pelo lixo que sua população produz.  

Estas são apenas algumas ideias que podem ser discutidas em sala de aula, em comunidades de bairros, em clubes, na vizinhança, dentro da família, na rua em que se mora, na Igreja que se frequenta.

O essencial é criar um sentido de pertencimento. Quem ama sua cidade vai zelar por ela. E o que, na verdade, as cidades mais necessitam, é de amor. Você ama a sua cidade e faz com que ela seja mais inteligente?

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

Comentários

Comentários