Se 2024 foi o ano mais quente da História, nada indica reversão dessa tendência de crescente aquecimento global. As cidades, onde as pessoas moram, devem se adaptar para evitar que os impactos dos fenômenos extremos, derivados das emergências climáticas, venham a ceifar vidas.
A situação mundial é bastante grave e a geopolítica não se mostra favorável à observância dos acordos internacionais que refreiem a exagerada emissão dos gases venenosos causadores do efeito estufa. Circunstância que intensifica a responsabilidade da cidadania, que é a vítima do exagerado calor, das chuvas que podem vir acompanhadas de ventanias e granizo. É no âmbito municipal que as coisas devem ser feitas, não se esperando que governos centrais se preocupem com questões locais.
Uma providência ao alcance de cada cidade é aumentar sua cobertura arbórea. O mundo carece de um trilhão de árvores, o Brasil de ao menos um bilhão e não há cidade em que o verde predomine sobre a construção convencional, de cimento, concreto, ferro e aço.
Pode-se afirmar que todo município carece de verde. Além disso, a arborização requer zeladoria, cuidados permanentes, incessante manutenção. Só que a presença de vegetação nos centros urbanos é de relevância fundamental. Mitiga problemas como enchentes, poluição atmosférica e ilhas de calor, além de promover bem-estar psicológico à população.
Esta precisa aprender a conviver com as árvores. Por questão de ignorância ou comodidade, há muita gente que não quer árvore perto de sua casa, menos ainda diante de sua casa. Os argumentos: árvore racha a calçada, deixa cair folha, é esconderijo de bandido.
Nada que não possa ser enfrentado com racionalidade. É preciso prover as cidades de espécies que tenham raízes profundas e não superficiais. A má escolha oferece resultados que antipatizam as pessoas com suas amigas árvores. As folhas constituem resíduo orgânico que deve se transformar em compostagem e servem como fertilizantes. Quanto à segurança urbana, é uma responsabilidade de todos, embora primordialmente do Poder Público.
Outra questão é a queda de árvores que causa interrupção de energia elétrica. A fiação subterrânea é a resposta. As concessionárias precisam promover a gradual substituição da fiação aérea pela fiação enterrada. A desculpa do custo não pode impedir essa providência que é também um dos graus de aferição do índice civilizatório de uma cidade.
O importante é que a população venha a ser conscientizada do valor da arborização, cujos inconvenientes são em muito superados por seu rol de benefícios. As árvores impactam na melhoria do ambiente atmosférico, expressão que abrange aspectos do clima e da composição do ar. A arborização urbana é um verdadeiro filtro, a reter partículas suspensas no ar, que reduzem a poluição. Esta, outra causa de mortes precoces. Assim como o calor, a poluição não vai aparecer como causa mortis nos assentos de óbito. Mas ambos apressam a despedida de milhões de seres humanos desta aventura fabulosa que é viver. Árvores reduzem a temperatura e isso interfere nas reações químicas dos gases poluentes.
A experiência paulistana deve servir de exemplo para todas as demais cidades. A diferença entre a temperatura no Extremo Sul – Parelheiros, por exemplo – e a Zona Leste, como Sapopemba, chega a ser de dez graus. Quando existem árvores, desaparecem as “ilhas de calor”, que aceleram a transmissão de arboviroses como a dengue.
Tudo isso anima você, leitor, que teve a paciência de chegar ao final deste texto, a se animar com a perspectiva de fazer com que a cidade tenha mais árvores? O que achou? O que você pode fazer a respeito?
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)