Há quinze dias escrevi, nesta coluna, minha opinião sobre as políticas estadunidenses sob o comando do atual presidente.
Recebi muitos comentários raivosos, com pesadas críticas. Em uma grande maioria delas, me acusavam de ser um jornalista tendencioso, que buscava colocar o que eu defendia, e não o que é notícia.
Fiquei assustado. Mas não pelas mensagens. Estou acostumado a ser "do contra" e não levo essas mágoas para o travesseiro.
O que me incomodou é que eu não sou jornalista e não escrevo noticiário. Sou cientista social e tenho uma coluna de opinião.
Também me assusta perceber que, mesmo com o aviso de que a opinião dos articulistas não representa a do jornal, muitas críticas ao veículo (o JJ) foram feitas.
Onde eu não me fiz entender?
Será que eu perdi a capacidade de exprimir uma opinião de forma clara?
Não.
O problema não está em mim. Porque um bom número de pessoas me entendeu e sabia que numa coluna de opinião dá-se justamente uma... opinião!
Então será que o inferno são os outros?
Não pode ser.
Se bem que deve faltar a muitos a compreensão do real significado da palavra opinião.
Acho estranho ter que dar esse "passo para trás". Mas é preciso educar.
Opinião é um substantivo feminino que significa "a manifestação de uma forma de ver, representando o estado de espírito e a atitude de um indivíduo ou de um grupo em relação a um determinado parâmetro ou realidade".
Vamos compreender melhor: as opiniões de uma pessoa são aquilo que ela acredita ser verdadeiro naquele instante porque são formadas a partir de valores que regem as atitudes do indivíduo, além de também depender das aspirações pessoais e do nível de maturidade psicológica de cada pessoa.
O que é preciso, portanto, entender?
Que as opiniões podem ser divergentes, ou seja, (algumas) pessoas pensam coisas diferentes sobre um mesmo assunto. Isto porque trata-se de um juízo subjetivo, que tem como fundamento o conhecimento individual da realidade, e muitas vezes não está baseada em fatos concretos e nem mesmo no bom senso.
Reitero: cada um tem sua opinião. Cada um pode ter a sua. Cada um enxerga a sua com os seus olhos e dentro de sua realidade.
A questão é que encontramos em nossas vidas, tanto no ambiente pessoal como no profissional, pessoas que querem impor a sua opinião e ter razão a qualquer custo. Normalmente, elas não aceitam o ponto de vista do outro e sustentam suas verdades até as últimas consequências.
E aqui está o problema: é preciso discernimento. Sim, é importante ter segurança sobre o que se diz, mas será que o fato de querer ter sempre razão tem algum limite? Quem impõe o que pensa tende a criar conflitos e não gera cooperação e integração com outras pessoas. O indivíduo utiliza como base o julgamento e a crítica na sua comunicação, ao invés da compreensão e diálogo. Resultado? Acaba reagindo agressivamente na defesa da própria opinião.
Isso leva à intolerância. Ao ódio. À violência.
Precisamos urgentemente conseguir gerar uma comunicação que crie relações gratificantes e positivas com as pessoas. Isso se dará através da tolerância, da abertura ao diálogo e principalmente da aceitação do outro. É importante entender, ainda, que existe um ponto de equilíbrio para defender opiniões e fazer com que elas sejam respeitadas.
O limite para justificar as próprias ideias é quando o debate produtivo dá lugar a uma batalha para impor a própria imagem e a ideia defendida, desrespeitando o interlocutor e tornando a interação autoritária e destrutiva.
Não é esse o mundo que queremos.
Samuel Vidilli é cientista social