OPINIÃO

Indústria se recupera, mas tem armadilhas à frente


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A indústria teve um grande ano em 2024, como há muito não se via. A produção industrial cresceu 3,1%, terceira maior expansão em 15 anos; o faturamento do setor avançou 5,6%, maior alta em 14 anos; e o emprego no segmento subiu 2,2%. Mais: quatro grandes categorias econômicas e 20 dos 25 ramos industriais mostraram expansão na produção.

A alta da produção foi puxada, principalmente, pela indústria de transformação, que avançou 3,7% enquanto a indústria extrativa manteve estabilidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula o índice, as principais influências positivas vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (12,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,2%), produtos químicos (3,3%) e alimentícios (1,5%).

Vale destacar o desempenho do segmento de bens duráveis que teve alta na produção de 10,6% -- melhor resultado desde 2017 –, sendo a categoria que mais impactou positivamente a indústria. Impulsionaram este setor a produção de eletrodomésticos (23,8%) e de automóveis (5,3%).

O segmento de bens de capital também registrou significativa expansão no ano passado, de 9,1%. A fabricação de máquinas e equipamentos está relacionada à ampliação e modernização da capacidade produtiva e é fundamental para o aumento de produtividade.

Este retrato auspicioso, que indica recuperação do setor, é resultado de um conjunto de fatores, como o estímulo fiscal por parte do governo, o mercado de trabalho aquecido – foram gerados 1,6 milhão de empregos formais em 2024 – e a massa salarial recorde (R$ 339,4 bilhões). Com mais dinheiro no bolso, os brasileiros se sentiram à vontade para adquirir bens de maior valor.

Esta conjuntura promissora, porém, tem uma série armadilhas à frente cujos primeiros sinais já apareceram no final do ano. A Produção Industrial Mensal de dezembro foi negativa (-0,3%), seguindo o padrão verificado também em novembro (-0,7%) e outubro (-0,2%). O aperto monetário começou em setembro e, aparentemente, afetou rapidamente a confiança dos empresários e dos consumidores.

A indústria é muito sensível ao aumento de juros porque não dispõe de linhas alternativas de financiamento a exemplo de outros setores, como construção, infraestrutura e o agronegócio que têm, por exemplo, Letras de Crédito, Plano Safra e debêntures incentivadas.

Além do crédito caro, a alta do dólar, que impacta custos, verificada no segundo semestre, e a elevação da inflação, sobretudo de alimentos que tira poder de compra das famílias, foram vetores negativos para o desempenho da indústria.

O crédito deve permanecer caro nos próximos meses. Em sua primeira reunião do ano, o Banco Central elevou a taxa básica de juros em 1 p.p., levando-a a 13,25%. Um novo aumento de 1 p.p. já está contratado para a próxima reunião. O mercado financeiro estima que a Selic possa terminar 2025 por volta de 15%, o que penalizará sobremaneira os setores produtivos.

Com isso, a Fiesp espera uma desaceleração da produção industrial este ano, com o indicador encerrando 2025 ainda no terreno positivo (1,3%), mas sem a força do ano passado.

A expectativa é que a tendência de acomodação observada no fim de 2024 se intensifique ao longo deste ano, sob impacto do aperto monetário, menor impulso fiscal e ambiente externo mais desafiador.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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