
Composta por vereadores de diversas origens, a Câmara Municipal de Jundiaí foi marcada por um episódio de xenofobia na última semana. Dentre os parlamentares vindos de outras regiões do Brasil, encontramos os vereadores Dika Xique Xique (PODE), natural da cidade de Xique Xique, na Bahia, Romildo Antonio (PSDB), vindo de Pombos, Pernambuco, e Madson Henrique (PL), natural de São Luís de Quitunde, em Alagoas. Do Sul, temos o próprio presidente da Câmara, Edicarlos Vieira (União).
Madson Henrique, o vereador agredido verbalmente, traz em sua história o espírito de luta dos nordestinos. Como muitos brasileiros, migrou em busca de trabalho. "Sou alagoano sim e vim para São Paulo como muitos brasileiros, trabalhar, tentar a vida, constituir uma família", afirma. Sua trajetória, como a de muitos outros migrantes, é marcada pela busca por dignidade e pelo desejo de proporcionar uma vida melhor para sua família. Ele ainda complementa dizendo que está aqui para representar o povo da terra dele. “Não tenho vergonha de dizer que sou nordestino, alagoano, que sou cristão, que sou conservador e evangélico. Esse sou eu.”
Já Romildo Antonio chegou a Jundiaí em 1994, tem uma trajetória de vida marcada por superação. Nascido em Pombos, Pernambuco, ele relata as dificuldades de sua família para que ele pudesse vir para São Paulo e construir uma nova vida. “Minha mãe vendeu um rádio e uma televisão para conseguir dinheiro para me mandar para Jundiaí”, conta Romildo, lembrando das dificuldades enfrentadas desde sua infância. A chegada ao bairro Novo Horizonte, onde ele se deparou com a falta de infraestrutura básica, foi um dos momentos decisivos de sua vida política. “A falta de energia, água, transporte, asfalto e a carência de escolas e creches me motivaram a agir. Eu ajudava os moradores como podia, levava ao hospital, socorria criança machucada”, relembra. Foi nesse cenário de desafios que, em 2008, Romildo decidiu se lançar na política, embora só conseguisse ser eleito em 2016.
A história de Adriano Santana dos Santos, mais conhecido como Dika Xique-Xique, é um reflexo da luta e da resiliência de tantos brasileiros que deixam sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Natural de Xique Xique, na Bahia, ele viu sua trajetória mudar drasticamente após um acidente de motocicleta em 2001. A falta de infraestrutura na área da saúde o levou a tomar a decisão de migrar para Jundiaí, onde reconstruiu sua vida. “Deixar minha terra não foi uma escolha fácil, mas foi uma necessidade. Depois do acidente, percebi que não teria condições de me recuperar adequadamente lá e vim para Jundiaí em busca de oportunidades. “Em 2006, consegui abrir o Bar Xique Xique e, depois, uma loja de móveis usados. Isso me deu visibilidade na cidade, mas o que realmente me aproximou da comunidade foi o trabalho social”. Em 2007, iniciou o Natal Encantado no Jardim Santa Gertrudes, que se tornou uma tradição até hoje. “Foi esse envolvimento com a comunidade que me motivou a entrar na política. Em 2012, me candidatei a vereador pelo PSDB com o apoio de muitos amigos, mas não fui eleito. Isso não me desanimou. Continuei meu trabalho e, em 2016, finalmente consegui chegar à Câmara Municipal.”
De outra região
O presidente da Câmara de Jundiaí, Edicarlos Vieira (União), veio do Paraná para tentar a vida em Jundiaí. “Vim para a cidade aos 16 anos para fazer a Escola Técnica Vasco Antônio Venchiarutti. Minha tia abriu as portas da casa dela para mim, ali no Parque da Represa. Mais tarde, fiz faculdade de Gestão Pública. Olha, eu tenho muito orgulho de estar aqui porque Jundiaí não abriu só as portas, mas as janelas também, porque primeiro veio a oportunidade de emprego, depois os grupos de jovens, movimento de juventude. Jundiaí é uma cidade que apoia todo mundo, que vem de todos os cantos para cá, sem preconceito, com muito respeito, e é a cidade das oportunidades”