OPINIÃO

Solucionar, não divagar


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A situação caótica do mundo que parece não entender as respostas da natureza aos maus-tratos que ela vem recebendo há séculos, emite um radar de perigo iminente. Se continuarmos inertes, seremos engolidos pelo caos. Por isso, todos aqueles que têm condições de propor soluções, devem fazê-lo. E com urgência.

Discutir, debater, elaborar teses e dissertações, tudo isso foi bom. Agora é agir! E chegar a alternativas factíveis, ainda que pareçam singelas. Valer-se da experiência dos povos ancestrais, que respeitaram o ambiente durante milênios. Mas também aplaudir e acompanhar projetos mais ambiciosos, como os da USP, cujos resíduos se transformam em fertilizantes, gás e energia na usina desenvolvida pelo Instituto de Energia e Ambiente – IEE. Dessa Usina de Produção de Bioenergia e Biofertilizantes participaram estudantes, docentes e técnicos. Por que não tentar algo semelhante em algumas escolas locais?

A proposta parte de uma sinergia entre os setores energético, agrícola e de saneamento. Demonstra a viabilidade técnica, ambiental e econômica do aproveitamento integral da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, hoje identificados pela sigla RSU.

A questão dos resíduos sólidos é uma das mais graves na questão das emergências climáticas. No Brasil, o campeão das emissões é o desmatamento e o uso inapropriado do solo. Mas em grandes cidades, o transporte é o maior vilão, seguido pela energia estacionária e pelos resíduos sólidos.

Aqui a maior responsabilidade dos municípios. A questão do lixo é estritamente municipal. Por isso é urgente que haja campanhas de conscientização com vistas a fazer com que a população saiba descartar corretamente aquilo que desperdiça.

O Brasil é o vencedor desse ranking que ninguém quer: a produção de lixo. Desperdiçamos muito e desperdiçamos mal. Não separamos os resíduos, como os países mais adiantados fazem há décadas. E com isso, ganham dinheiro, valendo-se da economia circular e da logística reversa. Aqui, tudo misturado, vai para aterro sanitário – quando ele existe, porque ainda há cidades que convivem com os famigerados e nefastos “lixões” – e não se transforma em dinheiro.

Orçamento que só prejudica a população é aquele que tem de destinar polpudas quantias para a varrição e coleta de lixo. Cidade educada cuida do seu resíduo. Não é preciso adotar a tática suíça com treze categorias de descarte. Basta separar o resíduo orgânico, que pode se transformar em fertilizante e produzir biometano, o vidro e os demais: papel, papelão, isopor, etc. Só conseguimos reciclar as latinhas de alumínio porque existe mercado. Mas, todo o restante, é desperdiçado.

A meninada que tem de conhecer cada vez mais ciências – biologia, física, química – pode ser incentivada a produzir soluções. Há cidades em que o prefeito instituiu uma “moeda verde”, para trocar material de reciclagem por uma espécie de dinheiro local, que pode ser trocado por alimentação ou revistas e livros. Há boas ideias mundo afora.

Existe inclusive incentivo internacional. Os Emirados Árabes costumam premiar escolas que conseguem autonomia energética, a partir de trabalhos desenvolvidos em conjunto por professores e alunos. São Paulo já foi premiado em duas oportunidades: 2016 e 2017. Depois, não sei se o projeto continuou. Mas há outras iniciativas em curso. O importante é oferecer respostas que solucionem, não divaguem ou transijam. Já não há mais tempo. A Terra está furiosa. E tem razão.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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