OPINIÃO

O preço da conectividade excessiva


| Tempo de leitura: 3 min

Vivemos na era da hiperconectividade, em que o celular se tornou um item indispensável no cotidiano de quase todas as pessoas. No entanto, o uso excessivo do celular tem causado um impacto profundo e muitas vezes destrutivo nos relacionamentos. Vocês já devem ter percebido!

Olhe que controverso: a promessa de conexão instantânea com o mundo tem nos afastado das pessoas que estão fisicamente ao nosso lado.

Veja se esta cena não é comum: casais sentados à mesa de um restaurante, cada um imerso em sua própria tela, pais distraídos enquanto os filhos buscam atenção, ou mesmo, amigos reunidos em silêncio, navegando pelas redes sociais. Esse comportamento, cada vez mais frequente, que tanto nos desconecta da vida real, leva a uma deterioração da conexão e da comunicação entre as pessoas, o que  seria essencial para qualquer vínculo social saudável.

O celular está causando distanciamento social e pessoal! Isso é muito preocupante.

Acredito que a dependência do celular pode ser comparada a um vício, pois estudos apontam que a simples presença do aparelho sobre a mesa já é suficiente para reduzir a qualidade das conversas, já que cria a expectativa de uma interrupção. Isso diminui a atenção plena, elemento-chave para as conexões entre pessoas.

Nos relacionamentos amorosos, o uso excessivo do celular gera sentimentos de rejeição, frustração e solidão, levando ao enfraquecimento dos laços afetivos. A falta de contato visual e a diminuição de diálogos profundos criam uma barreira emocional entre os parceiros, resultando em maior incidência de conflitos e até separações. É triste ver tamanha desconexão, já que ela pode acabar com o amor.

Nas relações familiares, o impacto não é diferente. Crianças que crescem vendo seus pais constantemente distraídos pelo celular podem desenvolver dificuldades emocionais e comportamentais, além de um senso de desconexão e baixa autoestima. Já os jovens, expostos precocemente ao universo digital, tendem a substituir interações reais por virtuais, comprometendo habilidades sociais fundamentais. Já estamos colhendo os frutos disso, infelizmente.

A qualidade das relações interpessoais está diretamente ligada à saúde mental e ao bem-estar. O uso abusivo do celular contribui para o aumento do estresse, da ansiedade e da depressão. A dependência digital também prejudica a qualidade do sono, essencial para o equilíbrio emocional e físico.

Além disso, o sedentarismo resultante de horas passadas diante das telas compromete a postura e a mobilidade, favorecendo dores na coluna e outras disfunções musculoesqueléticas. Como especialista em coluna e movimento, percebo no dia a dia o impacto que esse comportamento tem sobre a saúde corporal, reforçando a importância de hábitos mais equilibrados.

É possível restabelecer relacionamentos saudáveis sem abrir mão da tecnologia. Pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença, como definir horários específicos para o uso do celular, especialmente durante refeições e momentos em família; evitar levar o celular para o quarto ou para a mesa de jantar; praticar a escuta ativa e o contato visual ao interagir com as pessoas ao redor; substituir o tempo de tela por tempo de qualidade, resgatando atividades que promovam conexão real, como caminhadas ao ar livre, esportes e momentos de lazer sem distrações digitais.

A tecnologia deve ser uma ferramenta para aproximar, não afastar-nos. O desafio é encontrar o equilíbrio entre o mundo digital e o real, garantindo que as relações humanas sejam nutridas com presença, atenção e afeto. Afinal, nenhuma notificação vale mais do que um olhar sincero ou uma boa conversa. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)

Comentários

Comentários