OPINIÃO

O desvendar das sombras


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Quem mais me ensinou e me ensina a desvendar minhas sombras e a enxergar com maior claridade as questões do mundo é a Palavra de Deus e ela esmiuçada na Igreja Católica Apostólica Romana em que professo a minha fé. Bom dizer que não tenho dificuldade em me relacionar com pessoas de outros credos.

Sábado passado, o Padre Regiano Barbosa, ordenado no dia anterior, celebrou sua primeira missa na capela do Carmelo São José. A homilia foi do Padre Anderson Ricardo que o conheceu muito jovem.

25 de janeiro. Dia em que se celebrava a conversão de São Paulo.

Padre Anderson meditou sobre o apego ao rigor da lei, que transforma pessoas em “espantalhos” de cristãos, sem um encontro pessoal com Jesus, utilizando-se de murmuração, julgamento, maledicência... Disse sobre o cair do cavalo, como aconteceu com Paulo de Tarso perto de Damasco. A queda do cavalo abriu seus olhos, tirou-o da vingança, da cegueira, da soberba.

Refleti sobre qual foi a minha maior “queda do cavalo”, ou a “queda raiz”, a fim de que me encontrasse com o Senhor.  Jamais pensara na “minha queda do cavalo” como passo para a conversão. Nem identificava como “queda do cavalo”. Apenas me emocionava com a história de São Paulo. Aquilo que considerava feridas, que às vezes sangram, se tornou como testemunhou Paulo (Atos 22, 6): “... De repente uma grande luz que vinha do Céu brilhou ao redor de mim...” Bendito seja Deus!

Se não tivesse “caído do cavalo” de minha história, creio que não me aproximaria de mulheres em situação de vulnerabilidade social, na Pastoral da Mulher/ Magdala, que me ensinam muito.

Há poucos dias, conversando com elas sobre a apresentadora do Globo de Ouro, Nikki Glaser, fazer pilhéria pelo fato de ninguém agradecer a Deus pelo prêmio: “Deus Criador do Universo, zero menções”, uma das integrantes, entristecida, se manifestou: “Tenho meus erros e pecados, mas nunca magoei Deus”. Que linda tomar cuidado com o coração de Deus, protegê-Lo com respeito e carinho. De uma singeleza que me acariciou a alma.

Domingo passado, o Padre Márcio Felipe, que tanto assopra para longe trevas minhas, reitor do Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, em sua homilia, a respeito do Evangelho de Lucas ( 1, 1-4; 4, 14-21), disse que Jesus, ao proclamar o livro do profeta Isaías na passagem que está escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação das vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor", o fez para mostrar que Ele veio para trazer vida aos que a buscam e para despertar os que não a buscam, os que estão oprimidos, os que estão presos a tantas coisas.

Destacou, além da resposta ao Salmo (8B-19): "Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida", da 1a. Leitura (Neemias 8, 10): "...Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa força".

Se Jesus não se escandalizou com os que se perderam na vida e a buscam e com os que não possuem consciência da vida que lhes é oferecida, quem sou eu para me agarrar às leis e excluir os que precisam de um sentido para sua existência, às vezes caídos por terra e envoltos pela fuligem de sua história?

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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