OPINIÃO

Reflexões sobre o humor infantil


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A frase “Enquanto uma criança nascer, é sinal de que Deus não perdeu a fé na humanidade”, que Pedro Bloch associou à voz de uma criança, captura a essência da pureza e da espontaneidade infantil. Ouvir as crianças não é apenas um gesto, mas um aprendizado contínuo. Hoje, essa prática é cada vez mais reconhecida como essencial, especialmente na educação infantil. Especialistas destacam que as crianças possuem percepções únicas sobre a vida e o mundo e que suas vozes merecem mais atenção de famílias, escolas e da sociedade.

Pedro Bloch, médico e escritor, dedicou boa parte da vida a captar a sagacidade infantil em frases colhidas no seu consultório. Essas pérolas estão reunidas no livro Dicionário do Humor Infantil (1997), em que apresenta uma coletânea de definições espontâneas, poéticas e cômicas que refletem a genialidade do olhar infantil sobre o cotidiano. 

Com humor e ternura, Bloch lamenta a falta de registro dos pais, que muitas vezes deixam escapar as frases que seus filhos criam e que tanto os encantam no momento. A obra reúne preciosidades como:

•    Alegria: É uma gargalhada pendurada na gente.
•    Boca - É a garagem da língua.
•    Bíblia - Eu sei que Deus fez o mundo em seis dias e no sétimo descansou. É que naquele tempo, não tinha fim de semana.
•    Beija-Flor - É um passarinho que inventou o movimento parado.
•    Cabelo - É uma coisa pra gente não ficar careca.
•    Dromedário - É um camelo com uma mochila só.
•    Felicidade - De criança é não ser chateado por adulto. Felicidade de adulto é ficar lembrando quando ele era criança
•    Sorte - É a gente acordar, se preparar para ir pra escola e descobrir que é feriado nacional
•    Túnel – Papai, por que é que as pessoas fazem sempre um morro em cima de cada túnel?  
•    Sonho: “É uma coisa que fica dentro do meu travesseiro.”
•    Vaidade: “Não é pensar que a gente é mais que os outros, é pensar que a gente é mais do que é.”
•    W - São dois vês que nasceram gêmeos.
•    Abolição - É uma coisa assinada pela escrava Isaura.
•    Professora - Professora boa é aquela que, quando a aula acaba, você fica pensando que já sabe mais do que ela. Professora ruim, quando acaba a aula a gente já esqueceu o que ela falou. 
•    Figurinha - É uma coisa que a gente vive juntando, até encher o álbum e, depois, fica sem saber por que juntou aquilo tudo.
•    Mãe - É uma coisa tão boa, mas tão boa, que se você der dez mães, pra trocar pela minha, eu não troco. É que, mais de uma, eu não aguento.
•    Pai - Meu pai é tão bom, tão bom, que bem podia ser meu tio.

Essas frases revelam não apenas o humor, mas também a sensibilidade e a profundidade das crianças. Elas nos desafiam a reavaliar nossa visão de mundo e a redescobrir a simplicidade que muitas vezes esquecemos.

Francisco Carbonari é ex-secretário de educação de Jundiaí (fjcarbonari@gmail.com) 

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