O Brasil será sede da trigésima reunião promovida pela ONU para tratar de assuntos que hoje são chamados “emergências climáticas”. A sede escolhida foi Belém do Pará, em plena Amazônia. Um território icônico, emblemático, objeto da preocupação da parte sensível da humanidade. Afinal, ali se desmatou grande parte da última floresta tropical do planeta; ali se continua o genocídio indígena, para liquidar o que sobrou dos primeiros habitantes deste território chamado Brasil; ali se faz grilagem, exploração criminosa de minério, é a região em que a criminalidade organizada, nacional e internacional, atua com desenvoltura.
Acredita-se que o fato de a Amazônia ter sido a maior preocupação ecológica dos mortais, atraia para os dias de novembro próximo uma legião de pretensos amantes da natureza.
É preciso que todos tenham ideia do que se espera em relação à COP30. As três últimas COPs, realizadas no Cairo, em Dubai e em Baku, foram promovidas por países exportadores de petróleo. O tema descarbonização era uma espécie de heresia para eles. Então, não entrou, de forma incisiva, na pauta das deliberações.
O financiamento do processo de redução das emissões dos gases venenosos causadores do efeito estufa também não foi tratado com a consistência necessária. Aqueles cem bilhões, diante do agravamento da situação mundial, da transformação das mudanças em emergências climáticas, agora se converteram numa cifra que alcança um trilhão e trezentos bilhões de dólares. Em Baku, depois de muitos debates, chegou-se a um número bem inferior: trezentos bilhões. Parece muito, mas é insuficiente.
Parece legítimo esperar que o Brasil recupere a sua condição de promissora potência verde e não queira ser mais o “Pária Ambiental” de há alguns anos. Mas é difícil acreditar que ele consiga provar a todos os demais países sua vontade inabalável de reassumir a condição anterior. É que ele, de forma incongruente e incoerente, insiste na exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Quem participou de outras COPs pode testemunhar o esmero e o apuro com que foram organizadas, com empreendimentos iniciados cinco anos antes de sediá-las. Estamos no final de janeiro, faltam dez meses, e ainda não se decidiu – ao menos enquanto escrevo isto – quem responderá pela COP de Belém.
O ideal seria que houvesse uma descentralização. Deixar Belém como cenário de assinaturas e visitas ecológicas, mas fazer com que os trabalhos técnicos se realizassem em São Paulo. Aqui há infraestrutura, inclusive hoteleira, e não haveria dificuldade no recrutamento de milhares de jovens poliglotas. Qual a fluência idiomática em grande escala, detectável em Belém?
Por isso, é importante que todas as entidades subnacionais, inclusive os municípios, participem ao menos dos debates a respeito do que significa uma COP e do que deveria ser feito para o seu êxito, a exemplo do que – ao menos em termos de organização e estrutura – aconteceu nas COPs anteriores.
Os professores deveriam incentivar os alunos a escreverem sobre isso. A endereçarem cartas e mensagens – e-mails, whatsApps, etc – às autoridades federais, para que se não desperdice o tempo e a oportunidade de mostrar que o Brasil leva a sério a profunda mutação da realidade causada pela excessiva emissão dos gases venenosos causadores do efeito estufa.
Até porque, não haverá sobreviventes se o pior acontecer. Cuidar de adaptar as cidades para os desastres, tentar mitigar os efeitos dos fenômenos extremos, é obrigação de todos. Ninguém está excluído de pensar e de agir sobre o maior perigo que ameaça a humanidade, desde que ela iniciou esta fabulosa aventura sobre o planeta. Vamos agir?
José Renato Nalini é reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. (jose-nalini@uol.com.br)