OPINIÃO

O fenômeno aniversaria


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Depois de amanhã, sábado, 25 de janeiro, São Paulo completa 471 anos. É surpreendente imaginar que em 1554, quatro sacerdotes jesuítas enfrentaram a muralha verde, aparentemente inexpugnável, da Serra do Mar, para virem escolher um espaço no Planalto onde fundaram uma escola. 

Como teria sido vencer a escalada sem estrada, sem rota, aquela inclinação superior a oitocentos metros, contando com seus próprios membros: pernas e braços que iam se agarrando aos troncos, aos cipós, e puxando os jumentos que traziam comida e roupa. Área inexplorada, entregue à luxuriante vegetação e a todo tipo de fauna. Inclusive as temidas serpentes, das quais os europeus queriam distância.

Ao atingirem o território hoje ocupado pelo município de São Paulo, ficaram extasiados. Havia grandes rios: Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, Anhangabaú. Milhares de cursos d’água de variada dimensão. Riachos, córregos, afluentes dos corredores fluviais que passaram a servir como rotas de mobilidade. Era um verdadeiro paraíso! O Tietê serpenteava tranquilo, um rio insólito, pois tão perto do litoral, preferia fazer caminho inverso. Fauna e flora esfuziante. São Paulo nasceu em ambiente de uma beleza tropical apta a encantar os padres do Velho Mundo.

O que fizemos desde então? Desrespeitamos a natureza. Matamos os rios, a pretexto de “retificá-los” para oferecer espaço a sua majestade, o automóvel. O trânsito paulistano é terrível. Quase dez milhões de veículos transitam pelas vias públicas e poluem excessivamente a atmosfera. 61% das emissões dos gases venenosos causadores do efeito estufa e do aquecimento global provêm do transporte.

Só recentemente se despertou para a urgência de adaptação da megalópole para os inevitáveis efeitos das emergências climáticas. Não se indaga mais “se” os eventos extremos acontecerão. A pergunta é “quando” ocorrerão. Virão, de forma intensa, mais frequente e inclemente. 

Simultaneamente, São Paulo continua a atrair pessoas de todo o Brasil e também do restante do mundo. A maior cidade italiana fora da Itália, a maior cidade coreana fora das Coreias, a maior cidade portuguesa fora de Portugal e assim por diante. 

Quando o gestor municipal tem consciência, muita coisa boa pode ser feita. Como a ampliação da cobertura arbórea. São Paulo perdeu milhões de árvores e continua a perdê-las. As chuvas de verão ocorrem cada vez mais violentas. Os ventos derrubam as espécies mais antigas e elas caem sobre uma fiação que já deveria ser subterrânea, como nas cidades do mundo mais desenvolvido. Falta energia elétrica. A concessionária nem sempre é eficiente nos reparos. Culpa a árvore por incompetência própria.

O prefeito Ricardo Nunes declarou de utilidade pública trinta e duas áreas verdes particulares. Com isso, a capital passa a possuir 26% de cobertura vegetal com vocação de perpetuidade. Somadas as áreas particulares, estaduais e federais, são 56% de verde. Um tento, reconhecido internacionalmente, mais do que aqui. 

Essa preocupação com a arborização teria de ser nacional. O Brasil precisa de mais de um bilhão de árvores, só para repor a cobertura mínima. Jundiaí, que tem o patrimônio ecológico incalculável da Serra do Japi, deveria continuar a boa política de expropriação da área do entorno, que está sendo tomada pela especulação imobiliária e corre o risco de comprometer o ecossistema e os serviços ambientais que ela oferece, gratuitamente, à população.

Mas o texto deve estimular os jundiaienses a irem a São Paulo no próximo sábado. Haverá uma série de atrações. Prestigiem o aniversário desse fenômeno que o mundo inteiro admira e que está tão próximo a nós.

José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.   (jose-nalini@uol.com.br)

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