OPINIÃO

Festejar a uva e muito mais


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A partir da imigração italiana, que pretendia substituir a mão de obra escrava para que não sucumbisse a lavoura tupiniquim, Jundiaí se mostrou um campo fértil para o cultivo da vindima. A extensão e apuro com que se multiplicaram os vinhedos a converteu em “Terra da Uva”.

Parece que foi o prefeito Antenor Soares Gandra o primeiro a promover uma “Festa da Uva”, para trazer visitantes a Jundiaí e divulgar nossa principal produção agrícola.

A partir daí, as comemorações se tornaram frequentes, a cada janeiro. Por esse motivo o prefeito Vasco Antonio Venchiarutti construiu o Parque “Comendador Antonio Carbonari”, um dos mais festejados agricultores da terra.

Durante minha juventude, participei de muitas “Festas da Uva”. Havia um dínamo, alguém que amava sua cidade acima de tudo e que se chamava Jacyro Martinasso. Advogado e empresário bem-sucedido, não hesitava em oferecer sua inteligência, seu tempo e seu entusiasmo para promover Jundiaí.

Durante a primeira gestão Walmor Barbosa Martins conclamou-se a juventude “dourada” a ajudar na divulgação das festividades. Formou-se o grupo das “vinhateiras”, que eram comandadas por Geralda Yarid, outra idealista bem relacionada. As meninas se vestiam com trajes estilizados e faziam visitas a autoridades estaduais, à TV, às rádios, às entidades que pudessem divulgar a festa.

Lembro-me bem da visita ao governador Roberto Costa de Abreu Sodré, que estabeleceu um simpático diálogo com as moças de Jundiaí, então acompanhadas por Sara Emilia Vicente Bisquolo, que também concordou em ajudar a divulgação da festa.

Eram tempos em que não havia internet, nem redes sociais, o comando da comunicação estava com a TV aberta. E esta abria espaço bem adequado, suficiente a que centenas de milhares de pessoas viessem a Jundiaí durante o período da festa.

Os tempos mudam, mas é importante manter tradições. A “Festa da Uva” é algo que identifica Jundiaí, hoje esta cidade privilegiada, que só não é a continuidade da conurbação capital paulistana e Campinas, porque beneficiada pela Serra do Japi, o último remanescente de Mata Atlântica ainda preservado, nas proximidades da maior cidade do Brasil e a quinta mais populosa do planeta.
Uma característica das entidades subnacionais chamadas município é se tornarem quase todas semelhantes. Uma homogeneização que apaga as peculiaridades e torna os centros urbanos todos muito parecidos e muito feios. A praga da demolição, o comércio popular, o mau gosto, o desrespeito à estética, o trânsito ameaçador.

Por isso é que Jundiaí precisa devotar especialíssima atenção à sua “Festa da Uva”. E valer-se dela para uma divulgação de tudo o que a cidade ainda tem de bom, de peculiar, de característico e de diferente, que a possa distinguir da mesmice.

Lembro-me quando nos orgulhávamos da Vigorelli, da Argos, da Cica, da Vulcabrás, das Indústrias Andrade Latorre e de outras indústrias que desapareceram. O que temos para mostrar hoje? Tais atividades foram substituídas, mas restam outros empreendimentos que assumiram a nova feição de um município que tem o que exibir. A “Festa da Uva” é a oportunidade propícia. Ela tem de crescer, para que toda a população dela participe e incentive seus familiares e amigos de outras plagas a visitarem nossa cidade, a Rota do Vinho, a exploração de um turismo que tem tudo para atrair os quase treze milhões que moram a cinquenta quilômetros de nós e que anseiam sair de lá a cada fim de semana. Pensemos nisso!

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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