Tempos hostis como aqueles que passaremos a enfrentar, com o agravamento das emergências climáticas, demandam ações compatíveis. As cidades, onde tudo acontece, precisam se preparar. As ondas de calor e as precipitações pluviométricas violentas continuarão a ocorrer. Com intensidade e frequência maiores.
É urgente pensar em “jardins de chuva”, pequenos espaços devolvidos à natureza, que foi mutilada ao sofrer impermeabilização. “Vagas verdes” também são importantes: subtrair a Sua Majestade o automóvel, parte do estacionamento para receber vegetação. Florestas e bosques urbanos, as “pocket forests” já utilizadas no restante do mundo, as “florestas de bolso”. Tudo isso serve para que haja drenagem e escoamento da água, que precisa reabastecer os lençois freáticos e não formar enxurradas e correntezas.
Uma das soluções paulistanas é a horta comunitária. A capital é um exemplo de bom aproveitamento de espaços para cultivo orgânico de alimentos, manejo agroflorestal, promoção da biodiversidade e da segurança nutricional. Tudo isso, aliado com a geração de trabalho e renda e vivência de educação ambiental concreta.
As hortas comunitárias são mais de quatrocentas e quarenta. Trezentas delas ocupam espaços públicos e muitas concentram sua produção e PANCs – Plantas Alimentícias não Convencionais, ervas medicinais, temperos, frutas e hortaliças.
Isso pode ser feito em todos os municípios, inclusive no nosso. Para estimular a iniciativa de pessoas que querem realizar algo em favor da natureza e não sabem como, é importante conhecer a ONG “Cidades sem Fome”, que no bairro de São Mateus, na Zona Leste paulistana, mantém horta de dez mil metros quadrados. Ali se cultiva alface, repolho, espinafre, almeirão, couve, couve-flor, brócolis, beterraba, rabanete etc. são promovidos mutirões de plantio e colheita, com a participação de colaboradores e voluntários. Além de disseminar a cultura sustentável, colabora no combate à fome por meio da inclusão social.
A “Urban Farm Ipiranga” adota o sistema agroecológico para cultivar alimentos orgânicos em área de seis mil metros quadrados. Ali também se faz compostagem de resíduos orgânicos. Em 2024, foram 145 toneladas transformadas em adubo. Também se realiza a venda de cestas de frutas, legumes, raízes, hortaliças e temperos. É uma aposta bem-sucedida na biodiversidade e na produção de alimentos sem agrotóxicos. Outra vantagem é a revitalização de áreas degradadas, o emprego de pessoas em situação de vulnerabilidade e propiciar visitas guiadas sobre educação ecológica e práticas de sustentabilidade. O projeto ainda promove café da manhã orgânico, aos sábados, com feira de produtos colhidos diretamente da horta.
Até no centro da pauliceia existe a Horta Comunitária do Bixiga. A comunidade limpou o terreno e passou a cultivar espécies de ervas, temperos e raízes. A iniciativa é mantida pela “Associação Mulheres Unidas Venceremos”. Na Zona Sul, existe a “Nossa Fazenda”, uma fazenda coletiva que produz plantas nativas, principalmente frutas e ervas medicinais e aromáticas. Desenvolve-se o compartilhamento e aprendizagem coletiva. Também se incentiva o turismo de base comunitária, com a recepção de grupos de jovens para vivenciar um dia no campo.
A Horta Agroecológica do Sesc Interlagos, inicialmente criada para abastecer os funcionários da unidade, passou a oferecer alimentos para o programa Sesc Mesa Brasil e recebe visitantes ao promover cursos e oficinas. Existe um especial cuidado com o solo e controle natural de pragas sem o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos.
São algumas das iniciativas em pleno curso, que poderiam sugerir propostas análogas em nossa cidade e em todas as outras. Com isso, a resiliência entraria no radar de todas as pessoas e os cataclismos climáticos não apanhariam ninguém desavisado. Por que não iniciar algo assim aqui?
José Renato Nalini é reitor, docente da pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)
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