OPINIÃO

Preservar a vocação turística


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Jundiaí ocupa uma posição privilegiada. Encontra-se entre a maior cidade da América Latina, a quinta maior cidade mundial – São Paulo – e a capital da inteligência, que é sua filha Campinas.

Foi abençoada com a Serra do Japi, que precisa de vigilância contínua, zelo e acréscimos. Não tenho sabido de expropriações em continuidade ao que fizeram Walmor Barbosa Martins e André Benassi. Queira Deus que a nova gestão cuide de aumentar esse patrimônio que valoriza Jundiaí e é fundamental para garantir a qualidade de vida das próximas gerações.

É importante que Jundiaí preserve sua vocação turística. Aquele turismo de fim de semana, que treze milhões de paulistanos gostam de fazer. Passar um dia junto à lavoura. Temos vinhedos para mostrar. Temos vinícolas. Temos alambiques. Mais do que isso, temos uma tradição de gastronomia.

Quem é que não gostaria de sair de São Paulo, que está numa explosão de construção de novos prédios e passar um sábado e um domingo numa autarquia onde existe de tudo um pouco? As videiras, a fabricação de vinho e sucos, as geleias, o pão feito em casa, o macarrão da ‘Nona”, o nhoque, a lasanha, o fusilli, os bolos caseiros?

Essa vocação precisa ser incrementada e incentivada pela gestão municipal. Inclusive sugerindo o embelezamento das propriedades, que em outros países levam milhares de visitantes à apreciação da paisagem. Nem sempre o mais bonito é o mais caro. Basta aprimorar a estética, alimentar o bom gosto, aconselhar-se com designers, arquitetos, paisagistas e botânicos.

Jundiaí poderia exportar plantas ornamentais e flores. Já fomos bons nisso. Não sei se continuamos a ser. As FATECs e ETECs devem priorizar a agricultura, a fruticultura, a enologia. Essas são as profissões de que o mundo sente falta. Uma recente reportagem de Ana Lourenço no Estadão (13.12.24) mostrou a Rota do Vinho, programa que reúne sessenta e seis vinícolas do Estado, com experiências de ecoturismo. É exatamente o que mencionei no início desta reflexão: parada do Bate-Volta-SP, no circuito das frutas, com dezessete vinícolas em nossa cidade, Louveira e Vinhedo.

A jornalista menciona Jundiaí com algumas vinícolas, noticiando que a primeira venda de vinho em Jundiaí data do século XVII, mais exatamente, do ano 1669. Jundiaí já teve uma Estação de Enologia. Quantos italianos que vieram para o Núcleo Residencial Colonial  “Barão de Jundiaí” não faziam vinho em casa, para consumo familiar e depois conseguiram se estabelecer como empresários?

Há uma tradição jundiaiense com os Borin, os Cereser, os Carbonari, os Traldi. Não se pode perder essa vocação e estimular também a artesania, pois o paulistano está cansado de produção em massa, de objetos que são feitos em série e não têm qualquer identidade com o trabalho manual de verdadeiros artistas.

Tudo isso, conciliado com a produção e venda de frutas, em todas as estações do ano, com a gastronomia italiana, com os espumantes, os vinhos de mesa, as flores e plantas ornamentais, fará com que Jundiaí  seja um local turístico de primeira qualidade e mereça a visita desses milhões que se animarão a vivenciar um fim de semana junto à natureza. Algo que já é mais difícil de se conseguir na megalópole.

Se a iniciativa deve ser da Prefeitura, isso não inibe, senão estimula que Associação Comercial, empresários, Universidade, clubes, entidades do Terceiro Setor, ONGs e vocações individuais também militem na produção de programação para o fim de semana em Jundiaí. Todos ganharão com isso e será mais uma fonte permanente de obtenção de renda legítima e garantidora da preservação ambiental. O desafio mais angustiante já imposto à humanidade e que longe está de ser levado a sério.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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