O Governo Tarcísio erra ao acabar com o Serviço 710 da CPTM. Com ele, passageiros de trem podem fazer uma viagem contínua, sem transferências, entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, passando pelo Centro de São Paulo. São 31 estações conectadas das linhas 7 – Rubi e 10 – Turquesa.
Em vigor desde 2021, o Serviço 710 é aprovado por quem usa o sistema. Pesquisa da CPTM mostra que 30% dos passageiros das linhas 7 e 10 se beneficiam do grande corredor de mobilidade que foi formado.
Usuários ouvidos pelo levantamento também destacam a maior possibilidade de conexões com o Metrô e outras linhas da CPTM, além da redução significativa do tempo de viagem, estimado em pouco mais de duas horas para todo o percurso.
Se a iniciativa funciona bem e o passageiro está satisfeito, por que mudar? A resposta está na privatização da Linha 7 -Rubi, arrematada em maio de 2024. Naquela época, o projeto já previa a extinção do Serviço 710, uma decisão que acabou de ser confirmada pela CPTM neste ano que se inicia. Ao seguir por esse caminho, Tarcísio de Freitas dá um recado direto aos paulistas: de que o lucro da iniciativa privada está acima do bom serviço prestado à população. E para um governo que pretende arrecadar até dezembro de 2026 R$ 500 bilhões com 25 leilões de patrimônio público, isso pode ser perigoso.
Aliás, a privatização da Linha 7 – Rubi carrega um pacote de bondades do Governo do Estado para o futuro gestor privado. Além de se comprometer com o fim do Serviço 710, a CPTM assumiu um investimento de aproximadamente R$ 400 milhões para a troca de trilhos e dormentes do trecho concedido e garantiu um longo período de carência para o grupo vencedor assumir o serviço.
Como vice-presidente da Comissão de Assuntos Municipais e Metropolitanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, eu tenho acompanhado de perto esse e outros processos de privatização em andamento no nosso Estado. Há problemas gravíssimos, que trarão consequências no futuro próximo.
Eu tenho sido uma voz contrária à concessão da Linha 7 nos moldes oferecidos pelo governador Tarcísio. Nessa luta, conseguimos uma vitória importante ao lado de outras lideranças e vimos a CPTM recuar da decisão inicial que estabelecia a estação Barra Funda como ponto final para os trens que partem de Jundiaí.
Caso avançasse, a proposta do governo obrigaria os passageiros com destino às estações Luz e Brás a fazerem baldeações entre linhas, inclusive em trechos do metrô, aumentando significativamente o tempo de viagem.
A confirmação do fim do Serviço 710 da CPTM, assim como todo o processo de privatização da Linha 7 – Rubi, nos deixa uma importante lição: é um erro tomar como certo que a iniciativa privada é capaz de prestar um serviço melhor do que o poder público.
Nesse caso específico, os retrocessos são enormes. E quem sai no prejuízo é a população.
Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual em São Paulo.