Penso em acontecimentos de 2024. Como em outros anos, houve partidas e chegadas. Dores e alegrias. Deixei-me envolver por convivências que me fazem bem, por conhecidos e desconhecidos, por gente das beiradas da cidade e do centro...
Aprendi muito com as atitudes de crianças e adolescentes. Quantos deles gostam de brincar de casinha e de construção. São fadas e heróis que defendem o bem. Aprendi demais com as mulheres em situação de vulnerabilidade social que enfrentam as tribulações com coragem e alma iluminada.
Reflito sobre fatos difíceis, nos quais releio o Livro I dos Reis (19, 1-18). Elias estava acabado e desejou a morte. Disse: “Basta, Senhor, (...) tirai-me a vida, porque não sou melhor do que meus pais”. Adormeceu debaixo do junípero. Um anjo tocou-o, e disse: “Levanta-te e come.” Elias comeu, bebeu e tornou a dormir. Veio o anjo do Senhor uma segunda vez, tocou-o e disse: “Levanta-te e come, porque tens um longo caminho a percorrer.” E Elias andou quarenta dias e quarenta noites, até Horeb, o monte de Deus. Passou a noite numa caverna. A palavra do Senhor foi-lhe dirigida: “Que fazes aqui, Elias?” Comentou sobre os israelitas que abandonaram a aliança, restando apenas ele, ameaçado de morte. O Senhor disse-lhe: “Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: ele vai passar. Nesse momento passou um vento impetuoso e violento, mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu, mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. O Senhor estava nela.
Esse é um dos textos bíblicos que muito me sustenta. “Levanta-te (...), porque tens um longo caminho a percorrer”.
Segundo o Centro Loyola de Fé, a expressão “brisa leve” vem do hebraico “demanáh”, cuja raiz significa parar, ficar imóvel, emudecer. “A brisa leve indica algo, um fato, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar, provoca nela uma expectativa”. Vivi um momento assim em maio. Silenciei para, em seguida, bendizer a Deus, que assoprou meu coração e me ofereceu forças renovadas.
Creio que, na retrospectiva do ano, devo refletir sobre os cuidados que preciso ter para não repetir erros como: considerar mérito meu o que é graça de Deus; apontar erros do próximo em conversas triviais, fazendo com que a pessoa seja vista por seus desencontros, logo eu que possuo tantas misérias.
Não me recordo o autor de uma reflexão sobre o risco em ser tumor no corpo místico de Cristo. São João Clímaco (579 - 649), monge eremita que habitou o Sinai, em eu livro “Escada do Céu”, discorre sobre termos uma espécie de esterco na cabeça. Se deixamos esquentar, os ovos das larvas arrebentam e tomam posse, chegando às emoções. As larvas podem não ser prejudiciais na compostagem, mas na mente... O Céu tem me ajudado, quando o esterco de minha cabeça esquenta, a esfriá-lo com a oração.
Minha retrospectiva maior do ano que passou é sobre em que aceitei que o Senhor me melhorasse e o tanto que me falta ainda. Apesar disso, Deus passa na brisa para me encorajar e dizer que prossiga.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)