OPINIÃO

Atrás do sorriso fake


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A cidade de Jundiaí, assim como nossas vizinhas estão enfeitadas e iluminadas, em contagem regressiva, esperando a chegada de Jesus, para os católicos, ou simplesmente para comemorar com amigos e familiares.  Época em que o “espírito natalino” é invocado e magicamente a bondade, a compaixão e companheirismo tomam conta dos corações.

Aparentemente nas semanas que antecedem o dia de Natal, as pessoas entram num clima de confraternização, abraços, compras, presentes, correria, felicidade... a agenda fica lotada de compromissos, happy hours, almoços, jantares. Celebração. É preciso estar junto para comemorar o ano que está terminando e a promessa de que no próximo, as metas traçadas serão realmente cumpridas. A atmosfera de festa impera, a empatia, o amor e o calor humano emergem mesmo entre desconhecidos.

A alegria está no ar. Mas nem sempre o sorriso nos lábios é sinal de felicidade e de que tudo está bem. Precisamos ficar atentos. O quanto realmente sabemos sobre o amigo que trabalha ao nosso lado? Ou do companheiro do chopp das sextas-feiras? Se por um lado temos ânimo e disposição para celebrar a união e a esperança, de outro, a vulnerabilidade e a fragilidade pessoal, sorrateiramente, podem explodir num torvelinho de emoções contraditórias. O contraste entre as expectativas culturais de felicidade e a realidade individual pode gerar sentimentos de tristeza, angústia e, em casos extremos, levar ao suicídio.

O sorriso nos lábios, a piada contada, a brincadeira que contagia os amigos e o ambiente. O quanto disso esconde uma tristeza profunda ou uma depressão? Atrás de um sorriso fake pode estar dissimulado um sentimento de solidão, luto ou dificuldades financeiras. 

O meu alerta é para que tenhamos mais cuidado e observemos os sinais que as pessoas com as quais convivemos, ou aquelas que amamos nos enviam, mesmo que subliminarmente. Somos seres humanos, singular nas emoções e sentimentos, o que pode ser um problemão para um, não faz nem cócegas a outro. Levar ajuda a quem precisa, às vezes é só praticar a “escutatória”.  Ouvir. Não é preciso dizer nada. Enquanto fala, o próprio “falante” pode perceber e entender seu conflito. Talvez, com acolhimento e empatia, possamos mostrar que para todo problema há uma solução. Quando se está no olho do furacão, é difícil encontrar uma saída sozinho.

O riso não disfarça a tristeza. Precisamos voltar a praticar o olho no olho, o cara a cara para pegar a mesma “onda” e surfar juntos. Desta forma, estamos realmente presentes e em sintonia. Esse gesto é muito mais que um like nas mídias sociais. É se preocupar com o outro e estender a mão nos momentos de desafios, que certamente todos nós enfrentamos.

Que a alegria fake produzida nas plataformas digitais dê lugar a experiência de vida. Viver é como estar na montanha russa de um parque de diversões. É reconhecer que existe tristeza, desafios e que eles servem para nos tornar mais fortes e ampliar nossa visão de mundo. À medida que reconhecemos indistintamente nossos sentimentos, ganhamos confiança e força para “ser” e não somente parecer. Não há aparência que dure para sempre. Nem para o público nem para você, pois um vazio abissal toma conta do espírito e da alma e não há compras ou pratos exóticos que possam preencher esse buraco. E quando o monstro desse vácuo toma conta, a morte é certa. Então, sinta verdadeiramente a alegria vivendo-a.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)

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