OPINIÃO

Crônica da milhagem


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Sou de um tempo em que viajar à Europa era sonho longínquo para quem não fosse rico. Nunca fomos. Assim que obtive um emprego que me permitisse poupar algo, comprei uma passagem da Transeuropa, uma empresa que me levou suado dinheiro e não me entregou o prometido.

Quando as pessoas viajavam, iam muito bem vestidas. Terno e gravata, luvas e chapéu para as senhoras. E uma comitiva acompanhava os turistas ao porto de Santos ou a Viracopos. Ali se abraçava, se chorava, se emocionava.

Só consegui atravessar o Atlântico em 1975/1976, numa viagem para professores da PUC-CAMPINAS, organizada por Francisco Vicente Rossi. Um pequeno grupo jundiaiense se incorporou, no qual estavam suas irmãs, a saudosa Maria da Conceição e a caçula Ana Maria. Foi uma bela experiência. Aquela corrida por Paris, Londres, Colônia, Viena, depois Roma, onde Dom Agnelo propiciou bons programas. Deixamos nossas malas na residência do Cardeal, na Universidade Urbaniana e fomos para Istambul, Cairo, Amã, Petra, e entramos em Israel. Fizemos toda a rota cristã, com missas diárias celebradas por Dom Amaury Couto, primo de Dom Gabriel e então Diretor do Colégio de Aplicação da PUC-CAMPINAS, o Pio XII.

Depois disso, a carreira me proporcionou inúmeras viagens. Algumas inesquecíveis, comandadas pelo saudosíssimo ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, na sua missão de implementar a Escola da Magistratura no Brasil. Foi o que possibilitou a riquíssima experiência de conhecer todas as demais, na América, na Europa e no Japão. Cursos e estágios em Paris, Bordeaux, Luxemburgo, Trier, Madri e Barcelona, Milão e Roma. Acervo inestimável de conhecimento e contatos. A gente cresce ao viajar.

Viagens com a família também se seguiram. Levei meus filhos, ainda pequenos, à Argentina. Quando meu filho Renatinho fez curso em Londres, fui visitá-lo porque também estava estudando na Escola Nacional da Magistratura em Paris. Em 1987, Maria Luíza e eu fizemos uma interessante viagem pela Escandinávia, conhecendo a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia e a Noruega. Depois, de Oslo voamos para Aberdeen, na Escócia, e fizemos o percurso das destilarias.

Mas nada superou 2024, em que fiz cinco viagens internacionais. Com minhas irmãs Raquel e Ruth, fiquei duas semanas em Firenze e conheci os arredores. Fiésole, San Gemigniano, Bolonha, Piza, Verona, tanta coisa bonita. Reminiscências da infância, muita risada, muitos passeios.

Em maio fui com o prefeito Ricardo Nunes ao evento promovido pelo Papa Francisco, em que ele convidou vinte prefeitos de todo o mundo para reconhecer o trabalho pela natureza e para salvar pessoas nas emergências climáticas. Em julho fui às Olimpíadas em Paris e tive a oportunidade de atender ao convite da prefeita Annie Hidalgo, que convidou Ricardo para o banho no Senna e outros programas. Visitei o projeto “Oásis”, que temos na capital com outro nome, florestas urbanas e o museu dos esgotos de Paris.

Em outubro estive em Luanda, na África, a capital de Angola. Fiz conferências na Universidade Independente de Angola e foi muito interessante. Finalmente, fui pela cidade de São Paulo à COP29, em Baku, a capital do Azerbaijão, de onde voltei encantado. Uma civilização de vinte mil anos, uma capital belíssima, limpíssima, florida e iluminada, com povo educado e poliglota. Impressionante como o mundo é complexo, maravilhoso e instigante.

Viajar amplia os horizontes. Voltamos plenos de ideias e de inspirações. Há muito a ser feito no nosso Brasil, quando comparado a nações tão antigas e plenas de tradições. Mas temos de prosseguir e mostrar que também temos potenciais. O remédio é a educação de qualidade. Esta faz muita falta e é um freio a nos manter atrasados em relação ao restante do planeta.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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