“Tudo que é demais não acaba bem". Vivemos na sociedade dos excessos... para o bem e para o mal. Há um exagero na exposição dentro das plataformas digitais, assim como das narrativas, muitas vezes com conteúdo duvidoso e zero profundidade. Moderação e equilíbrio são valores fundamentais para garantir resultados positivos e sustentáveis, tanto na vida pessoal quanto profissional, tarefa que exige autoconhecimento, autocontrole, empatia e paciência. Tarefas exclusivamente pessoais que saíram do cotidiano e entraram para o mundo da ficção alocando-se dentro das histórias contadas para seguidores das mídias sociais.
A jornada do herói proposta por Joseph Campbell em seu livro “O Heroi de Mil Faces”, na qual propunha a saga de uma vida voltada para os valores que enobrecem a alma e o caráter, como integridade, honestidade, coerência entre falar e agir, respeito, humildade, gratidão, justiça, coragem, generosidade, perseverança e sabedoria ganharam relatividade no mundo líquido, efêmero e mutável. O “heroi” de Campbell, em sua estrutura narrativa arquetípica é baseada em mitos e lendas de diversas culturas. Ela descreve o ciclo pelo qual um protagonista atravessa ao longo de uma história. Desde a partida do mundo comum, passando por desafios transformadores, até retornar ao ponto de origem com um novo equilíbrio e sabedoria.
Na verdade, o heroi poderia ser qualquer um de nós, não necessariamente com os feitos que mudam uma sociedade, mas como a formiga que cumpre o seu papel e faz uma diferença enorme para a comunidade. Atualmente, a imagem do parecer sobrepõe-se ao ser e a narrativa heroica excede qualquer realidade trazendo dúvidas sobre sua conduta. Os exageros, independentemente de quão positivos ou prazerosos possam parecer no início, tendem a trazer consequências negativas e nefastas a longo prazo.
A arte de contar histórias para engajar, persuadir e inspirar, o storytelling, durante anos, foi a pedra angular do marketing e da comunicação. Entretanto, assim como a narrativa do heroi parece ter cansado o público. Hoje, quase tudo é contado em forma de narrativa, dos comerciais aos e-mails de venda, discursos políticos e até campanhas institucionais repetem fórmulas similares. Esse cenário saturou o público, que se torna cada vez mais cético em relação a mensagens que parecem fabricadas para manipular emoções.
A desconfiança e desinteresse tomaram conta das mentes e dos corações das pessoas, tratadas como simples espectadores numa era em que a interação é mandatória. Campanhas publicitárias que exploram emoções como nostalgia, felicidade ou solidariedade tornaram-se previsíveis. Muitos consumidores sentem que estão sendo manipulados, como se a história fosse um truque, não uma conexão autêntica. Outro exemplo é observado nas campanhas políticas, nas quais os candidatos se apresentam como "herois de suas próprias jornadas", e frequentemente soam artificiais, levando o público a rejeitar discursos que não refletem ações concretas.
Autenticidade e transparência se tornaram valores imprescindíveis para que o público volte a dar credibilidade às narrativas. As pessoas estão em busca de mensagens diretas, verdadeiras e que respeitem sua inteligência.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)